A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL POR IMAGENS -II
Dando continuidade a análise de imagens, veremos hoje o detalhamento da segunda pintura sobre A Independência do Brasil.
BREVE HISTÓRICO DA OBRA –
“A realidade inspira e não escraviza o pintor. Inspira-o aquilo que ela encerra digno de ser oferecido a contemplação pública, mas não o escraviza o quanto encobre contrário aos desígnios da arte, os quais muitas vezes coincidem com os desígnios da história”.
Essas palavras são do paraibano Pedro Américo numa carta enviada junto com a obra, defendendo seu trabalho e as liberdades para retratá-la sem que fosse fidedigno aos fatos da cena.
A obra em destaque reproduzida abaixo é Independência ou Morte, também conhecida como o Grito do Ipiranga. Ela é data em 1888 (quase setenta anos da proclamação da independência) e foi encomendada por D. Pedro II (Com 4,15m de altura por 7,60m de comprimento) e se encontra no Museu paulista. Segue padrões estéticos e em razão da sua encomenda, temos um retrato da Independência do Brasil visto de forma idealizada.
Vamos explorá-la em 7 aspectos icnográficos da pintura destacando suas imprecisões históricas e geográficas pois ela é verossímil. Observe a numeração colocada em destaque na pintura para você ter uma melhor compreensão da obra.
1. A guarda e a face do imperador.
Há um certo exagero no que se refere à comitiva do então príncipe regente D. Pedro I, sendo portanto um pouco mais reduzida do que aparece no quadro, entre 9 a 10 pessoas no total, e não 40 pessoas como retratado.
O pintor quis dar um tom de solenidade à imagem dando ênfase à centralidade de D. Pedro I, enfocando a ideia de movimento que é acompanhado pelos cavaleiros (que o saúdam) e seus cavalos em um destaque ao aspecto da circularidade no conjunto dos personagens (composição elíptica dando a ideia de integração). Além disso a face serena do príncipe regente que demonstra segurança e altivez destacando seu gesto se torna improvável pois o príncipe regente padecia de uma dor de barriga, sendo este o motivo principal da parada da comitiva às margens do Ipiranga.
2. As Vestimentas- Não há registros
de que O Príncipe Regente e nem sua comitiva usavam uniformes de gala, mas sim
roupas de algodão, mais leves e mais apropriadas ao desgaste da viagem do que a
obra sugere. Além disso os soldados de branco que aparecem na obra são do 1º
Regimento de Cavalaria de Guardas (Os Dragões da Independência), que não
estavam presentes na viagem da comitiva. Esse grupo de oficiais (com seus
trajes e capacetes) foi criado em dezembro de 1822. Eles foram inseridos na
obra para dar um caráter mais solene ao episódio.
3. A Casa do Grito. A casa do Grito,
como é chamada e se tornou um dos símbolos da independência, não existia em
1882. Somente 62 anos (1884) após o fato é que temos o seu registro. Portanto,
não há provas da sua existência.
4. Cavalos. Havia vários obstáculos às longas viagens do Imperador
usando animal, como as variações de temperaturas e as diversas formas de
terrenos, sendo inapropriado o uso de cavalo. A forma mais utilizada à época
eram mulas pois a viagem de São Paulo a Santos além de ser longa constituía-se
de muitos obstáculos na estrada como buracos, ribanceiras, etc.
5. Riacho do Ipiranga. Sua localização é atrás do morro e não abaixo como a obra sugere. Além disso, a distância entre a colina em que se encontra D. Pedro e o Riacho do Ipiranga é enorme, na realidade. Chama atenção do observador a pata que esguicha na água. A cena simboliza São Paulo (onde está localizado o Ipiranga) dando-lhe aspecto valorativo da primazia como berço da nação.
6. Pedro Américo. Notou que no fundo do quadro, à esquerda, aparece um homem, solitário observando a cena? É o próprio pintor que nasceria 21 anos após o evento.
7.Participação popular. Inexistem registros históricos sobre a presença de populares no momento do ato, além de não se ter registro de pessoas residindo na região do Ipiranga, conforme sugere a pintura. Além disso, a presença dos populares (um caipira e um tropeiro) foi introduzida na cena (segundo o próprio artista) para contrastar o ambiente sereno e tranquilo (paisagem rural) com o grande acontecimento esplendoroso (a independência)
Serviço: Museu Paulista da USP. Parque da Independência,
s/n.º - Ipiranga. Tel.: (011) 2065-8000
CURIOSIDADE HISTÓRICA - olhe a
pintura abaixo e note algumas semelhanças entre ela e a pintura de Pedro
Américo, como aponta o historiador José Murilo de Carvalho.
A semelhança na composição dos dois quadros é muito grande. Em ambos, a figura central, d. Pedro e Napoleão, é colocada sobre uma elevação do terreno, cercada por seus estados-maiores. Ao seu redor, em movimento circular, soldados entusiasmados saúdam com as espadas desembainhadas. A dinâmica das figuras nos dois quadros aponta para o centro ocupado pelo príncipe e pelo imperador. Sobressai em primeiro plano o movimento dos cavalos, cujo desenho exato era obsessão de Meissonier. Nos dois casos, finalmente, nenhuma ambiguidade quanto ao objetivo dos pintores: a exaltação do herói guerreiro. http://www.crmariocovas.sp.gov.br/grp_l.php?t=036gi
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SERIA
ENTÃO, A OBRA DE PEDRO AMÉRICO, UM PLÁGIO?
É
equivocada a informação de que Pedro Américo plagiou o pintor francês, Ernest
Meissonier. No século XIX, o conceito de plágio era diferente do que temos
atualmente.
“São coisas
diferentes – repetimos – uma imitação fecunda e uma cópia servil ou
materialmente disfarçada, como é o caso mais frequente dos plagiários. (Apud,
SCHLICHTA, 2006.pág.235) .
Um grande abraço e até a próxima
semana.
OBS: Dê sugestões sobre qual o tema que deve ser abordado
aqui.
Manoel Mosilânio Malaquias da Cruz (Pixote
Cruz)
Historiador
(URCA), Pedagogo (URCA), Graduado em Mídias da Educação (MEC) Especialista em
Mídias da Educação(UFC), em Educação e Direitos Humanos (UFC); em Análise
Transacional (Academia do Futuro) e em Metodologia do ensino Superior (UNICAP).
Pesquisador sobre Música Brasileira e Tutor do Projeto Professor Aprendiz da
SEDUC- FUNCAP na área de Ciências Humanas. Professor de Graduação e Pós- Graduação
da Faculdade FACEN. Professor da Rede Privada e Pública Estadual de Brejo
Santo-Ce, e do Curso Sapiento. (Salgueiro – Pe)
Especialista e Consultor
Educacionais das Matrizes Curriculares e dos Parâmetros Curriculares Nacionais
e da prova do ENEM
Acesse o canal ENEM TOMARA 2017.
FONTES
CONSULTADAS E DE APOIO
BASTOS, Lucia. Nem as margens ouviram. O Grito
do Ipiranga não teve qualquer repercussão na época. Revista de História,
16/09/2009.
CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura
brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983.
FRANCO, Pablo Endigro. O riacho do Ipiranga e
a independência nos traços dos geógrafos, nos pinceis dos artistas e nos
registros dos historiadores (18222-1889).
Brasília, 2008.Dissertação de mestrado. UNB.
OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles &
MATTOS, Claudia Valladão de. O brado do Ipiranga. São Paulo: Edusp, 1999.
_____________. A invenção do grito. Revista de
História, 19/09/2007.
SHLICHTA, Consuelo Alcioni B. D. Independência
ou morte (1888), de Pedro Américo: a pintura histórica e a elaboração de uma
certidão visual para a nação. Anpuh, XXV Simpósio Nacional de História,
Fortaleza, 2009.
http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/independencia-do-brasil-por-moreaux/
- Blog: Ensinar História - Joelza Ester Domingues.