O prazer das coisas simples
Existem, perto
de Roma, algumas pequenas cidades conhecidas como “Castelos Romanos”. São
cidadezinhas simpáticas e aconchegantes. Talvez a mais famosa delas seja Castel
Gandolfo, onde está localizado o Palácio Apostólico (a casa de verão dos
papas). Aliás, desde que assumiu seu pontificado, o Papa Francisco nunca passou
as férias em Castel Gandolfo, o que fez do Palácio Apostólico se transformar em
museu. No meio dessas cidades encontra-se o Lago de Albano. É um lago de formação
vulcânica. Onde tinha um grande vulcão (hoje inativo), se tornou um lindo lago
que atrai diversas pessoas, sobretudo no quente verão italiano.
Essa semana
participei de um festival de artes de rua dos castelos romanos, na cidade de
Albano Laziale. Ao cair da tarde, as ruas se fechavam e davam espaço a um grande
número de exposições e manifestações artísticas. Música, mágica, artesanato,
pintura etc. Tinha oferta para todos os gostos. Sem falar das comidas típicas e
da cerveja (em italiano: “birra”) de estrada, cerveja artesanal. Muitas pessoas
participaram desse festival. E, ao contrário do que costumo ouvir: que na
Itália só existem pessoas velhas, eram muitos os jovens e as crianças presentes
no local. Uma verdadeira festa familiar.
Eu fiz questão
de passear com calma entre as diversas exposições e conversar com as pessoas. Essa,
diga-se de passagem, é uma ótima oportunidade de treinar o idioma, visto que a
língua que as pessoas falam nessas ocasiões não é a língua culta que estou habituado
a escutar nos ambientes de estudo e de trabalho. Sabemos que é diferente. No
Brasil também é assim. Embora não tenhamos dialetos (na Itália são vários, e
bem diferentes!), nós usamos maneiras diversas de falar o português. Uma coisa
que é bem comum em nosso País são as expressões regionais. Eu vivi isso quando
falava algumas expressões do Ceará e as pessoas de São Paulo não entendiam.
Assim também eu me sinto aqui: o italiano falado nas praças e nos bares,
sobretudo entre os jovens, é muito diferente do italiano que aprendo nos
livros.
No final da
noite, depois de ter passeado por todos os pontos possíveis do festival, fui
assistir a um espetáculo de circo. A estrutura não era muito grande. Era
realmente um circo de rua. Mas o som do violino, tocado por uma linda jovem,
era deveras convidativo. Sentei-me, e esperei o início da apresentação. Ouvindo
aquele agradável som, eu pensava de como é possível encontrar prazer nas coisas
simples da vida. Eu não estava num grande concerto de música clássica, não
estava numa grande estrutura de teatro, ou num grande circo. Não! Eu estava
sentado na calçada, ouvindo um violino, e aquele momento me proporcionou uma
experiência agradável, prazerosa. O escritor Guimarães Rosa dizia que “a
felicidade se acha em horinhas de descuido”. Pois bem, naquele momento eu
estava me sentindo feliz. E como sei disso? Porque não queria que acabasse.
E você, caro
leitor, estimada leitora, já viveu algum momento semelhante? Já parou em frente
ao pôr do sol e pensou na grandeza que é o universo? Já viu a maravilha que é o
desabrochar de uma flor? E sentir a brisa do mar? Ah, que sensação maravilhosa!
Todas essas, e muitas outras, coisas simples da vida nos proporcionam um grande
prazer. E são de graça! No entanto, na correria do dia a dia, às vezes não nos
damos conta delas. Parece que estamos sempre apressados. Para onde estamos
indo?
Convido
você a parar um pouco e contemplar essa canção do Marcelo Jeneci (link abaixo).
Preste atenção na letra, veja os detalhes do clipe. Bom final de semana a
todos!
Danilo Alves Lima