sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Leia a COLUNA DO DANILO LIMA (Direto de Roma)


O prazer das coisas simples

Existem, perto de Roma, algumas pequenas cidades conhecidas como “Castelos Romanos”. São cidadezinhas simpáticas e aconchegantes. Talvez a mais famosa delas seja Castel Gandolfo, onde está localizado o Palácio Apostólico (a casa de verão dos papas). Aliás, desde que assumiu seu pontificado, o Papa Francisco nunca passou as férias em Castel Gandolfo, o que fez do Palácio Apostólico se transformar em museu. No meio dessas cidades encontra-se o Lago de Albano. É um lago de formação vulcânica. Onde tinha um grande vulcão (hoje inativo), se tornou um lindo lago que atrai diversas pessoas, sobretudo no quente verão italiano.
Essa semana participei de um festival de artes de rua dos castelos romanos, na cidade de Albano Laziale. Ao cair da tarde, as ruas se fechavam e davam espaço a um grande número de exposições e manifestações artísticas. Música, mágica, artesanato, pintura etc. Tinha oferta para todos os gostos. Sem falar das comidas típicas e da cerveja (em italiano: “birra”) de estrada, cerveja artesanal. Muitas pessoas participaram desse festival. E, ao contrário do que costumo ouvir: que na Itália só existem pessoas velhas, eram muitos os jovens e as crianças presentes no local. Uma verdadeira festa familiar.
Eu fiz questão de passear com calma entre as diversas exposições e conversar com as pessoas. Essa, diga-se de passagem, é uma ótima oportunidade de treinar o idioma, visto que a língua que as pessoas falam nessas ocasiões não é a língua culta que estou habituado a escutar nos ambientes de estudo e de trabalho. Sabemos que é diferente. No Brasil também é assim. Embora não tenhamos dialetos (na Itália são vários, e bem diferentes!), nós usamos maneiras diversas de falar o português. Uma coisa que é bem comum em nosso País são as expressões regionais. Eu vivi isso quando falava algumas expressões do Ceará e as pessoas de São Paulo não entendiam. Assim também eu me sinto aqui: o italiano falado nas praças e nos bares, sobretudo entre os jovens, é muito diferente do italiano que aprendo nos livros.
No final da noite, depois de ter passeado por todos os pontos possíveis do festival, fui assistir a um espetáculo de circo. A estrutura não era muito grande. Era realmente um circo de rua. Mas o som do violino, tocado por uma linda jovem, era deveras convidativo. Sentei-me, e esperei o início da apresentação. Ouvindo aquele agradável som, eu pensava de como é possível encontrar prazer nas coisas simples da vida. Eu não estava num grande concerto de música clássica, não estava numa grande estrutura de teatro, ou num grande circo. Não! Eu estava sentado na calçada, ouvindo um violino, e aquele momento me proporcionou uma experiência agradável, prazerosa. O escritor Guimarães Rosa dizia que “a felicidade se acha em horinhas de descuido”. Pois bem, naquele momento eu estava me sentindo feliz. E como sei disso? Porque não queria que acabasse.
E você, caro leitor, estimada leitora, já viveu algum momento semelhante? Já parou em frente ao pôr do sol e pensou na grandeza que é o universo? Já viu a maravilha que é o desabrochar de uma flor? E sentir a brisa do mar? Ah, que sensação maravilhosa! Todas essas, e muitas outras, coisas simples da vida nos proporcionam um grande prazer. E são de graça! No entanto, na correria do dia a dia, às vezes não nos damos conta delas. Parece que estamos sempre apressados. Para onde estamos indo?
Convido você a parar um pouco e contemplar essa canção do Marcelo Jeneci (link abaixo). Preste atenção na letra, veja os detalhes do clipe. Bom final de semana a todos!
Danilo Alves Lima