segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Leia a COLUNA DO DAVID JÚNIOR

O QUE PRECISAMOS CURAR? 

Em nossa coluna semanal já compartilhei com os leitores dois textos sobre o processo de medicalização ou patologização da vida, que cada vez mais se faz presente em nossas discussões diárias. Temos buscado sinais e sintomas patológicos para tudo, temos transferido nossos sentimentos, expressões, opiniões e formas de ser no mundo para o campo médico, numa tentativa constate de encontrarmos respostas imediatas para nossas “inquietações” (que dizem respeito a nós ou aos outros). 

Na última semana acompanhamos a repercussão da liminar do Juiz Federal do DF, Waldemar Claudio de Carvalho, que proibiu o CFP (Conselho Federal de Psicologia) de impedir psicólogos de promoverem estudos ou atendimento profissional sobre a reorientação sexual, em outras palavras, de porem em prática o charlatanismo da “cura gay”, um processo que além de atingir o direito humano da liberdade de ser, invade a pessoalidade e singularidade da sexualidade alheia, baseando-se em “preceitos” religiosos e morais que pretendem “retirar” do sujeito o que lhe pertence como essência.
Para o presidente do CFP, Rogério Giannini, “esta liminar não agrega nenhum benefício para a discussão da causa e ainda traz graves prejuízos à população LBGT. Consideramos que, neste caso, a interferência extrapola a competência do Judiciário, ao dizer como um conselho profissional deve interpretar a sua própria norma”, o que nos faz pensar sobre quais bases científicas esta liminar se baseia, e sobre quais as consequências de profissionais unirem suas concepções religiosas à suas práticas profissionais, ao substituírem a ciência por suas crenças, pois é este o fato que fica mais evidente – o poder do fanatismo religioso, no Estado e na Justiça.
 

A cada dia somos surpreendidos com notícias que nos provam o quanto o Brasil tem se rendido aos caprichos dos líderes, missionários da fé, que segregam os povos, seleciona os salvos e querem “reorganizar” a vida alheia (ou humana), em nome da religião, ou melhor, de algumas religiões. Aqui, a fé tem sido cega e a faca bem amolada, o tradicionalismo tem se sobressaído e o retrocesso é a palavra de ordem. 

Que os Psicólogos não se rendam a esta liminar, com o propósito de reorganizar ou tratar o que não é possível – a liberdade humana de ser no mundo o que realmente se é. E que procurem curar as dores causadas pelo desrespeito, pela ignorância, e pela intolerância que tem oferecido aos humanos situações de desprazer e desconforto. Alertemo-nos!

David Junior
Psicólogo