Como é do conhecimento de todos estou coletando histórias do cotidiano de pessoas que fazem a história da cidade, da rua, da escola, do sitio, enfim de todos os cantos de Brejo Santo. É gratificante entrevistar personagens tão importantes. Confesso que já existe uma ralação de pessoas e cada dia alguém me procura com sugestões. Isso muito me alegra.
Hoje foi o dia dele ou dela? Bem, dos dois. Duas figuras históricas que vivem enraizadas na cidade de Brejo Santo e conhecidas por todos. Quem não já ouviu falar em Paulinho e Paulete? Quem não conhece a coragem deste jovem que desde cedo assumiu uma postura de admirações respeito, vencendo as barreiras do preconceito? Embutido nesta pessoa existe um homem e uma mulher com uma interessante história de vida.
Quando escolhi entrevistar Paulinho e Paulete fiquei receosa de que não aceitasse. Mas que alegria! A resposta foi imediata e marcamos para semana seguinte. Fiquei ansiosa, mas enfim chegou o grande dia. Fui muito bem recepcionada em seu local de trabalho, ele muito educado e atencioso. Assim o diálogo vai criando forma e Paulo Freire de Oliveira deslancha a conversar. Fiquei curiosa e na oportunidade pergunto se o nome é em homenagem ao escritor. Mas ele declara que não, pois se trata do sobrenome. Este jovem nasceu na cidade de Barbalha de parto cesariana, enfatiza, em 11 de maio do ano de 1979, filho do casal José Freire Rodrigues (O Sr. Didi Ourives) e Maria de Moura Freire (Dona). Paulinho ou Paulete perdera sua mãe muito cedo, ele tinha apenas 5 anos de idade. Dois anos depois, ele relata que seu pai contraíra matrimônio e deste casamento tivera mais dois filhos. Do casamento com sua mãe foram 8 filhos (três mulheres e cinco homens). O que mais me admirou em Paulinho ou Pulete foram suas respostas objetivas, pois me desculpe os leitores, diante de tanta segurança em assumir sua personalidade, chego a conclusão que somos “anormais” quando ditamos a exclusão. Expresso este pensamento, por que ao perguntar sobre sua infância veio uma resposta excelente: “Foi normal, teve muito preconceito, mas foi normalizando. Adorava brincar com as meninas”. Paulinho fora criado pela Madrasta e pelas irmãs. E Paulinho vai relatando suas perdas, além do pai e da mãe que se encontram na eternidade, perdera sua irmã Diana a qual faleceu em 2015, seus irmãos Naim e Djalma anos anteriores. Depois deste momento me detenho na pergunta chave da história cotidiana: Quem é Paulinho? Ele indaga: “EU!” E digo Sim. E ele: “Eu sou assim, tenho duas personagens, de manhã e a tarde sou uma “pessoa” por causa do emprego. Sou outra pessoa que gosta de se arrumar, de se maquiar”. Paulinho diz que é feliz sendo Paulete. Percebi de fato a seriedade de Paulinho nas suas colocações. Foi uma pena ele não ter trazido a Paulete. Mas seus olhos brilham quando fala de Paulete. A turma do colégio em que Paulinho estudava colocou o apelido o referido apelido no ano de 1996. Estudou até o 3º ano do ensino médio e desejava se formar em arquitetura, pois gosta de desenhar. Vem a resposta sobre a pergunta: Quem é Paulinho no trabalho?: “Normal, faço de tudo um pouco, vou a banco, pois desde 1996 até hoje trabalhao com Fátima Martins na farmácia veterinária”.
Quem é Paulete? “Paulete é noite pra brilhar”! Suas roupas, perucas e maquiagens são adquiridas com recurso próprio ou as amigas a presenteia, pois são muitas amizades. Paulete só possui vida noturna nos finais de semana ou feriados, durante a semana fica em casa assistindo televisão. Quando assume seu lado Paulete sua maior inspiração é animação, alegria. Quem é para você sua musa ou artista inspiradora? Achei de uma profunda sabedoria sua resposta: “Não tenho, a inspiração é em mim mesma, pois adoro me maquiar”. E Paulete no cabeção! “Ah, todo ano é uma faixa nova, por que todo ano o povo joga tinta e suja. Tenho 15 faixas, fora as que ganhei da miss Brasil em Fortaleza (2004) e a coroa e do 3º lugar da Miss Universo. Não participo de passeata girl por que é longe em São Paulo ou Rio de Janeiro, se eu pudesse participaria, acho a do juazeiro fraquinha”.
Hoje Paulinho e Paulete moram na Rua Santa Terezinha, assume sua vida com dignidade, e diz que quando era mais jovem saia mais, porém atualmente possui uma postura caseira, assistindo novelas ou jornal. Paulinho diz que possui apenas as paqueras e que vive muito feliz sendo Paulinho ou Paulete.
Encerro este momento perguntando o que Paulinho e Paulete gostam ou sentem falta em Brejo Santo? “O que era bom em Brejo Santo eram as festas status, São João na praça, as festas”. Mas a festa que mais gosta é o carnaval e depois a vaquejada.
Assim caminha Paulinho e Paulete lado a lado em busca de ser feliz do seu jeito, mas acima de tudo amigo de todos deixando um brilho da musa inspiradora: Ele mesmo. Busquemos em nós mesmo nosso próprio brilho e nos inspiremos em nós mesmos assim como faz Paulinho e Paulete.
Brejo Santo, Ceará 28 de fevereiro de 2018
Maria de Fátima Alves Moreira – Professora e Historiadora https://mariadefatimaweb.wordpress.com/