segunda-feira, 23 de abril de 2018

COLUNA DO DAVID JR. - Um povo sem Humanidades?



Um povo sem Humanidades?
 
Em tempos difíceis e confusos, nos quais somos surpreendidos a cada instantes por fatos que revelam o nosso distanciamento de nós mesmos e do mundo no qual vivemos, é valido participarmos de reflexões daquilo que nos implica, do que nos incomoda, do que não nos acresce enquanto “humanos”.

As novas propostas do MEC (Ministério da Educação) para a redução do espaço para a Filosofia nas salas de aula do Ensino Médio têm movimentado as redes sociais com debates e opiniões das mais diversas “espécies”, e tem nos mostrado o quanto isso é perigoso na perspectiva de vermos crescer o espaço para intolerância, para a incredulidade de si mesmo, e para a difusão de uma violência “cibernética” que extrapola os limites do desrespeito e da falta de educação.
 
A Filosofia não pode ser pesada como a mais importante de todas as outras disciplinas, nem deve ser compreendida como “sem função” no processo educativo. A Filosofia vai além das objetividades, e ainda bem. Ela tem, desde o século VII a.C., desacomodado as sociedades, tem apontado caminhos ainda não percebidos, e tem oportunizado outras realidades aos que possuem dificuldades de enxergar-las. A Filosofia tem libertado o “homem”, que à luz do conhecimento quer a liberdade, de suas cavernas escuras, improdutivas, apáticas e estáticas.
 
É preciso pensarmos o ser humano como um sujeito desenvolvido integralmente, capaz de pensar de forma criteriosa, questionando, refletindo e investigando, rompendo com os paradigmas que “cortam suas asas”, ou se refazendo, em um eterno devir de desconstrução e construção, para antes de ter, ser.
 
A Filosofia, no “novo” Ensino Médio, está diluída nas áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, uma “nova” contextualização, um eufemismo não tão bem empregado, para amenizar a exclusão da obrigatoriedade da Filosofia, e de seu incômodo jeito de pensar o “eu”, o mundo e o outro.
 
Penso em um julgamento político da Filosofia. Ela pode ser “inútil” em uma época em que “pessoas” mandam outras “comer capim”, em uma época em que “mitos” bradam suas soluções impensadas e inconsequentes para um povo, que sedento de uma resposta imediata, acreditam no poder educacional do “fogo”, da “bala” e do “tortura”.
 
O domínio do pensamento filosófico proporciona ao sujeito os elementos necessários para o exercício da cidadania, é capaz de oferecer ao homem ferramentas importantes para o enfrentamento da realidade no qual ele está inserido, e quem sabe ele não ousa modificá-la? 

A função da Filosofia é questionar as ideologias, é apontar limites e enxergar possibilidades. Em um país como o Brasil, de desigualdades, a Filosofia tem sua valiosa importância para formação de seus jovens, para que eles possam lidar com as dificuldades de sua vida, reconhecendo-se como sujeitos protagonistas, e não somente espectadores de realidades alheias, “adultos birrentos”.
 
Pensemos em uma Educação que vá além de resultados estatísticos, leituras mecânicas, e provas subumanas. Pensemos uma Educação que não louve a morte de Paulo Freire, mas use sua proposta libertadora para a construção de um país no qual seus habitantes antes de eleitores sejam questionadores.
Uma ótima semana. Até a próxima.

 
David Junior
Psicólogo e Professor de Filosofia