sexta-feira, 14 de setembro de 2018

COLUNA DA HISTORIADORA FÁTIMA ALVES - DONA NEIDE TELES, poética alma de educadora.

 DONA NEIDE TELES, poética alma de educadora.


Não poderia deixar de retratar a personalidade de alguém tão influente historicamente e educacionalmente na cidade de Brejo Santo, NEIDE TELES, filha de José Teles de Carvalho. Que tarde agradável e descontraída ouvir a história de vida da primogênita da família Teles. 

Ao iniciar nossa conversa, dona Neide começa falando do Sr. José Teles de Carvalho (seu pai) e que este tinha decidido ser padre e foi para a cidade de Canindé estudar no seminário encaminhado por uma tia. Dona Neide fala da inteligência do Sr. José Teles e ela acredita que, na verdade seu intuito era somente estudar, conhecer e fundar uma escola. Foi estudar junto com seu irmão João Teles. Depois de certo tempo ele escreve uma carta ao superior do seminário justificando sua falta de vocação. Ao retornar a cidade, resolve montar uma escola, e assim começa o Instituto Padre Viana, com salas emprestadas. Em 1944 João Teles resolve e ir embora e vende a parte na sociedade para irmão. João Teles foi um intelectual que estudou e passou até pelo juizado federal. 

 
Após a saída de José Teles de Carvalho do Seminário, conheceu sua esposa Dolores Lopes Bezerra na cidade de Canindé, cidade onde Dona Neide nasceu, no dia 17 de fevereiro de 1940. A sua infância ela revela que foi criada pela sua bisavó Catarina e foi morar no sitio Garanhuns, pois sua mãe estava grávida de seu irmão João, e como era de costume, quando ia nascer um filho, o outro era destinado a casa da tia, avó ou bisavó. Dona Neide revela que não tinha com quem brincar, mas brincava sozinha mesmo. Assim ocorreu com Dona Neide, morou pelo período de oito anos. Moravam sua avó Dona Lica e sua tia Luzia. Sempre que vinha a cidade sua mãe pedia para que ela retornasse pra casa, mas não queria. Mas o Sr. José Teles mandou um recado para que ela viesse estudar, e ele foi buscá-la, e veio, porém sua bisavó esteve doente ela retorna para cuidar da bisavó. Porém não aceitando a situação da filha em não estudar, o Sr. José Teles explica a situação a Dona Catarina de que Neide precisava estudar e ela entende. Sr. José Teles comprou um terreno onde hoje é o Araujão e trouxe todas para morar em Brejo Santo. Dona Neide disse que casou muito jovem, com 17 anos de idade, com Francisco Alves de Araújo, e ela não estudou como deveria pois, seu esposo era funcionário Federal e sempre eles moravam em cidades diferentes. Quando engravidou de Núbia morava na cidade de Chaval, ela veio para Brejo Santo, pelas condições de apoio médico e assim se recuperar após o parto. Depois nasceu Napoleão quando morava em Várzea Alegre. Então no ano de 1964, após passar uma temporada na cidade de Missão Velha, retornam para Brejo Santo.  Ela revela que Fatinha já nascera em Brejo Santo. 

Desejosa de estudar, Dona Neide enfrenta os desafios da época, resolve estudar, quando seu esposo fala do cursinho de Mundinho. O esposo diz que vai estudar ela retruca: “E eu também”. Mostra sua emancipação feminina e seu desejo de estudar, apesar de ser questionada pelo esposo de quem cuidaria das crianças. Mas não desistiu. Ela começa a citar os professores que acompanhou seu retorno ao estudo: Dona Anetilia, Professor Gonzaguinha, no curso Supletivo primeiro grau. Ela diz que sempre tirou nota boas. Decide não parar e se dedica ao 2º grau e fez o pedagógico no Colégio Padre Viana, momento em que fez até o 4º Pedagógico, inclusive duas vezes em áreas diferentes. Não para por ai, Dona Neide resolve prestar vestibular e um dia recebe a visita de seu ilustre pai José Teles e este a questiona: “Neide você quer fazer o vestibular”? Neste período já tinha o contrato do estado. Ela responde que tinha o contrato, mas não tinha dinheiro. Então na sua generosidade seu pai responde: “Eu custeio”. E como incentivo ela aceita o desafio. Ela foi junto com sua irmã Aurileide prestar então o vestibular na Faculdade de Filosofia do Crato. Um grupo se dedica ao estudo e Dona Neide retrata os professores que os apoiaram: Dão Tomé, Matemática, Lúcia Ambrósio Português. Diante de tantas tarefas Dona Neide adquire uma estafa e passa três dias internada, faltando apenas oito dias para o vestibular. Mas ela diz que não desistiu, foi fazer o vestibular. Segundo Dona Neide era uma turma boa que se preparava para prestar vestibular: Aurileide sua irmã, Pretinha, Sônia de Laerte, na época não tinha ônibus, todos passavam uma semana na cidade do Crato. Ficaram hospedados na casa de dona Dora.  E na casa tinha uma imagem de Nossa Senhora, no dia em que foi fazer o exame se apegou a Nossa Senhora. Pediu ainda a sua Tia Molequinha, a mesma já tinha falecido e pediu sua intercessão. Lembra que um dos desafios foi o tema da Redação: “A felicidade está em Mim”. Sentiu que tinha feito boa prova. E dias depois saiu a relação a qual era publicada em Rádio. Muitos comentavam: “Passou as filhas de Sr. José Teles”. Ela não esquece a colocação de alguém que chegou em sua casa e não acreditando que ela passaria no vestibular, dizendo que colocava fé em Aurileide e não na sua pessoa. Dona Neide neste momento revela seu positivismo em relação a vivencia de vida. Faz sua especialização em Gestão e um curso a distância, tudo como base de crescimento educacional e profissional. Seus orientadores de estágio da faculdade foram Cirene, Ima Ferrugem. Assim estavam só começando os desafios, foi professora de séries iniciais na Escola Padre Pedro, inclusive de uma segunda série em que os alunos tenham dificuldades de aprendizagem e para sua alegria no final do ano todos os alunos liam. Outro desafio foi a sua transferência para uma escola maior, como o colégio Balbina Viana Arrais, junto com as colegas Cosma e Pretinha, na época o Estadual, e tinha como diretoras Nilda e Filomena. Mas por intermédio de Maria de Jaime que na época era Diretora da Escola Padre Pedro, resolve a situação indo até a crede de Juazeiro e conversa com Loreto a Diretora e resolve a situação, e esta, retorna a sua escola de origem.


Ao retornar lecionava a disciplina que lhe ofereciam, e diz que se aposentou ensinado Técnicas Comerciais. Outra experiência profissional foi assumir como Diretora da Escola Padre Viana por um período de 8 anos. Depois Dona Neide incentiva seu filho Napoleão a fazer uma faculdade. Me deparo assim com esta pessoa maravilhosa e acolhedora: “Não sou uma Pessoa tão difícil, sou uma pessoa de fácil acesso, gosto de todo mundo, a não ser que a pessoa me magoe e eu fico magoada, a não ser, gosto de todo mundo! A família, como apoio e carinho, descreve seus irmãos: João, Geovane, Francisco, Aurileide, são cinco irmãos e tem dois netos e duas bisnetas.

Um dos fatos marcantes na vida de Dona Neide foi a perca de sua mãe, a qual tinha 28 anos, jovem ainda, e ela ainda criança viajou com sua mãe de trem até a cidade Canindé, a qual estava conduzindo Dé Macedo, seu primo, para estudar. Porém o inesperado aconteceu, o trem descarrilhou, tombou e sua mãe ficou entre os acidentados e infelizmente, não sobreviveu. Dona Neide Saiu ferida e viu sua mãe morta, ela ainda tão criança. Foi levado a um hospital e socorrida com vida, mas para sua tristeza, sua mãe não resistiu. Apesar de sofrida e de ter visto sua mãe morta, Dona Neide demonstrou ser forte e firme e com propósito de ajudar. Principalmente no que se refere com seus irmãos, os quais ela acompanhou inclusive com preparação a primeira comunhão. 

Dona Neide com sua visão de sábia e detentora de conhecimentos, ela diz que Brejo Santo é uma cidade desenvolvida, com essa política que desenvolveu a cidade, Dona Neide faz alusão a personalidade de Dr. Welington como um dos mentores do desenvolvimento. Agradece de coração pelos que estão empenhados na comemoração do centenário de seu pai José Teles de Carvalho. “Pois ele é um ícone que não morre jamais” revela Dona Neide. 

Muitas narrações seriam necessárias para descrever uma história permeada de luta e de conquistas. Que família abençoada por Deus! O legado de José Teles está impregnado em cada um que faz a família e na nossa história cotidiana. Realmente Professor José Teles deixa para nossa cidade não só seus filhos e netos, como percursores da educação, mas como exemplo de unidade e de amor ao que fazem como é o caso de Dona Neide Teles. Ao participar do lançamento do livro de Fátima Teles, sobre o centenário e vida de seu avó, ontem dia 13 de setembro, senti-me emocionada em ver o carinho que a cidade nutre por todos da família. Parabéns pelo legado do Professor José Teles e pela pessoa de Dona Neide que prossegue na luta da educação de Brejo Santo. Obrigada Dona Neide pela receptividade e por sua pessoa ilustre, que merece toda nossa homenagem.