Ivete Moreira 80 anos de vida, de luta e vitória. Parabéns!
Esta semana é de festa, festa para uma mulher exemplo na história cotidiana de Brejo Santo, merece todas as homenagens por que construiu com dignidade sua história de vida arraigada a da cidade e principalmente da Igreja.
Foi uma tarde agradável, meu coração saiu radiante de alegria e fortalecida pelas palavras encantadoras de Maria Ivete Moreira. Ivete nasceu na cidade de Brejo Santo, no dia 21 de outubro no ano de 1938, na Rua Coronel Ferraz, conhecida como Rua Velha, filha do casal José Moreira de Sousa (in memoriam) e Maria de Lourdes Moreira (in memoriam). Ivete começa a falar sobre seus pais, ela revela que seu pai nasceu na cidade de Senador Pompeu e sua mãe natural de Brejo Santo. A profissão de seu pai era policial e ao chegar à cidade conheceu dona Lourdes, ela com apenas 14 anos de idade, e ao vê-la passar na Rua do Comércio Velho, a qual ia ao um restaurante de uma tia e ele se apaixonou por ela, ele bem mais velho, aproximadamente 30 anos de idade. O amor não resistiu e ele a pediu em casamento e assim começa a história. Tiveram uma prole de 11 filhos: Ieda (in memoriam), Ivete, Ivonete, Ivanildo, Ilza, Ivanilda (Preta), Fátima, Gilberto, Cicero e Itamar, completa que Cicero e Pia já são falecidos. Morreram cinco.
Ivete começa a descrever sua infância e viajei na sua memória: “Naquele tempo Brejo era uma maravilha, naquele tampo não tinha energia, a gente brincava muito, correndo nesta cidade no escuro, escuro que você só via as pessoas quando via aqueles fumantes e a tochinha de cigarro acendendo... nós brincávamos pra lá e pra cá”. Suas amigas de brincadeiras ela descreve com precisão: “Bernadete, Inês Carlota, Vilani mãe de Silvany, Alzenir Matias, Terezinha de Madrinha Pitu, Irenice, Bilium, Bela, tudo criança, Quinha de Odilon, todas essas pessoas fizeram parte da minha infância, fora as que moravam na Rua Velha”. Ivete revela que as brincadeiras aconteciam após a escola, brincando nos sítios fazendo as artimanhas, inclusive colhendo goiaba, pois em suas casas não tinha merenda. Que emoção ouvir o desfecho histórico de Ivete e em meio a sua história de vida a história de nossa cidade: “A saudade imensa do Engenho de Sr. Zé Jacinto, daquela garapa, inesquecível, da rapadura quente na palha que Sr. Benjamim dava a gente, nós descalça, brincando, aquela água descendo daquelas pedras ali que chamava Serrote, descendo cachoeira, era tão grande a cachoeira que formava um tanque bem grande pra dar água os animais e aquela água era quem aguava todo aqueles sítios da redondeza, coisa mais linda era os pés de bananeira. A nascença cheia, aquelas senhoras tudo de cócoras lavando roupas. Bebendo água da cacimbinha ela minava água, abastecia nossa cidade todinha. Eu fui muito pegar com um potinho, por que criança gostava de movimento, todas as meninas ali da rua velha, noite de lua clara, ia com as mães e com as latas na cabeça e de oito pra nove horas da noite, dava num sei quantas viagens”. Imaginem o cenário belíssimo: uma cidade pequena, sem energia ainda instalada, a tranquilidade e as pessoas felizes com os afazeres noturnos. Tudo motivo de alegria e festa. Quanta riqueza de detalhes, uma tarde foi pouca, ela recorda que a comunidade do Serrote, hoje Alto da Bela Vista, não tinha saneamento básico como hoje, havia tudo a céu aberto, inclusive as casas eram de taipa em sua maioria, sem condições mesmo de residir, sem contar o mal cheiro da pedra do urubu local onde abatia os animais para consumo de carne pelos habitantes.
O marco da vida de Ivete foi sua participação na Igreja. Inclusive ela foi a primeira pessoa e criança a coroar Nossa Senhora de Fátima no ano de 1953 dentro da Igreja, coordenado por Geralda Simplício e que a imagem ainda hoje está na igreja do Sagrado Coração de Jesus. Foram anjos da coração Socorro de Edmar e Filomena, Inês Cartola foi a caridade e oferta das flores com crianças de branco emparelhadas com flores do campo para nossa Senhora. Diz com entusiasmo de que participou de tudo com Padre Pedro Inácio Ribeiro, nas festas do Padroeiro, participou da organização do partido azul e o partido vermelho, os quais eram a disputa das rainhas para festa, barracas verdes, vermelha e barracas azuis. O parque só tinha as canoas, os potes de aluá de abacaxi adoçado com rapadura, os bolos de puba e os pães doces enormes para comprar e comer. Achei interessante Ivete falar da praça sete de setembro localizada atrás da Igreja Matriz, onde hoje está localizada a escola Padre Pedro. Segundo ela “a coisa mais linda do mundo”, ela acha que deveriam ter conservado como patrimônio da cidade. Na praça tinha árvores de fixos, a praça era na pedra bruta, bancos de madeiras estreitos, tinha o busto de Getúlio Vargas, perto da Sacristia tinha o coreto. Todos os domingos os músicos se reuniam para tocar as retretas. Lembra-se do Sobrado do Sr. Manuel Leite próximo à praça e recorda ainda das árvores chamada Japão, de um perfume inigualável. Assim diz que sua infância foi uma maravilha. As professoras que marcaram foram: Rosa Roberto sua primeira professora e sua cartilha as primeiras palavras que aprendeu foi Maria e José. Depois estudou na escola José Matias Sampaio seus professores foram Auristela Arrais, filha de Dona Pedrosina, neta de Dona Balbina Viana Arrais e seu tio Padre Viana, família que veio da cidade do Crato enaltecer a educação de Brejo Santo. Outra professora que marcou profundamente sua história de vida: Dona Heraclides, diz Ivete que ela ensinou tudo, inclusive de se apresentar em público, incentivou ainda a participar de tudo na cultura de Brejo Santo.
Ivete é uma pessoa alegre e satisfeita com tudo que realizou quando criança. Participou de Lapinhas junto com a amiga Bernadete, como cigana pedindo dinheiro na rua, preparada por Maria Alacoque, participou do catecismo, de todas as coroações. Na época para lapinha recolhia frutas para o menino Deus, através de sua mãe, quando chegou em casa com fome e não tirou uma fruta com medo de mexer nas frutas do menino Jesus, descobriu que as mesmas eram pra Maria Alacoque. Ela fala na inocência da época. Depois de sua infância surge sua adolescência e ela vai morar com uma tia na cidade do Crato para estudar na escola técnica de comercio de Sr. Pedro Felício, o qual era diretor. Revela que sua tia a tratava muito bem, andava sempre arrumada, no auge da adolescência e nesta época foi rainha do carnaval no Crato Tênis Clube. No ano de 1955 voltou para Brejo Santo, depois foi morar em Fortaleza, depois retorna ao Crato. Ivete adorava morar na cidade do Crato, mas certa vez pediu a Nossa Senhora da Penha que quando retornasse a Brejo Santo, tivesse algo que se esquecesse do Crato, ai ela diz que conheceu o João. Lembra-se dos carnavais, da sorveteria floro, onde hoje é a esquina de Chico de Sinésio. Casou por amor, mas os percalços da vida a fez chegar até aqui.
Profissionalmente contribuiu de forma exemplar na Escola Padre Pedro como auxiliar de serviços por 17 anos, trabalhou no Projeto ABC como recepcionista, foi mecanógrafa na escola Sabina Gomes. Fez curso de merendeira e incentivada por Renato coordenador da Crede a voltar aos estudos e através de Luís de Antônio Né resolve fazer o supletivo. Assim Ivete resolve retornar aos estudos, depois do Supletivo fez o Logos e cita que Dona Terezinha Landim era sua colega e todos os dias passava em sua casa para irem juntas. Porém incentivada por seu filho Tancredo Teles resolve fazer o magistério no colégio Padre Viana, tendo como professor seu filho Tancredo e cursa até o 3º magistério (antigo normal). E concluiu com 47 anos de idade, dançou a valsa com 55 concludentes e cita que Miram Basílio era um de seus colegas, e a festa foi linda com uma maravilhosa orquestra a qual tocou uma das mais belas músicas Mar Azul. Mas resolve cursar o 4º normal, o qual era como uma faculdade e trazia pessoas de várias cidades e estados vizinhos.
Com um ânimo de vencedora, diz que criou seus filhos na base do respeito e da humanidade, hoje está feliz com sua família, não queria ser mãe de outros filhos: Francisco Tancredo Moreira Teles, Maria Telma Moreira Teles, Francisco Tasso Moreira Teles (In memoriam), José Teógenes Moreira Teles, Pedro Moreira Teles, Teresa Tania Moreira Teles. Telma se destaca como filha, pois ela diz que não sabe se é mãe ou filha de Telma. Trabalhou com orgulho entre altos e baixos criou sua família com dignidade e venceu, construiu sua casa, e Tasso a ajudou demais. Ivete fala sobre a perda de Tasso, o qual trabalhou junto e sabe que ele a amou muito. Recorda que na hora da dor da perda é difícil, sabe que na fraqueza Deus é a força, Deus é tudo, e que Jesus jamais teve culpa da tragédia, proclama: “Jesus força da minha fraqueza, socorrei-me” ela diz que escuta claramente Jesus dizer: “Ivete verdadeiramente tu me amas”, sabe que sua fé apesar de ser menor que um grão de mostarda atravessou tudo isso graças ao amor de Deus por ela, o que aconteceu foi a mão humana, a saudade é grande, mas o controle sobre esta situação tem a confiança e a mão de Deus que a conforta através da esperança, esta maior que uma montanha, atravessou tudo segurando na mão de Deus. Ivete nos dá um belo testemunho de fé quando diz: “Eu não me sinto infeliz nem uma coitada e nenhuma sofredora, de jeito nenhum, eu me amo e que Jesus já fez tanto por mim, ele é bom demais”.
A conversa maravilhosa com Ivete, com seu entusiasmo revelam ainda que foram junto com Bernadete os primeiros membros da Fraternidade Eucarística, intercessora da RCC, faz parte do Apostolado da Oração, foi a primeira a se inscrever no curso da Consagração de Nossa Senhora com Padre Pedro André, faz parte da escola Fé e Vida. Mas como toda pessoa brejossantense que ama essa terra, Ivete revela seu amor pela cidade e fala de administradores anteriores, como Juarez Sampaio, Emilio Salviano, Mauro Leite, Wider Landim, que todos deixaram suas contribuições, mas enfatiza que a história de Brejo Santo depois de Welington Landim houve uma mudança extraordinária. Diz que sempre foi amiga desde a juventude dele e que andou com ele fazendo campanha juntos, inclusive na campanha de Juarez Sampaio para prefeito e que ela junto com Zizi, Lúcia de Buica fizeram uma paródia com a súplica cearense, o qual admirou a letra. Welington inovou, amava nossa cidade e tinha o desejo de mudança, teve uma visão futurista. Assim ela revela um amor a Welington Landim devido a sua aproximação e amizade com ele.
Ivete concluiu nos ensinando que “A nossa vida tem uma meta, você pode pegar o Salmo 89 que diz o seguinte; que a meta da nossa vida é até os 70 anos, a 80 anos os mais fortes. Eu acredito que a fortaleza de Deus você também tem que se esforçar para lutar, para vencer os obstáculos da vida, por que se vier uma coisa e você parar, que Deus dá a força dele mas ele dá a nossa também, o resto é sofrimento e ilusão, passa depressa e nós também passamos, mas nunc a é tarde para ser feliz”.
Parabéns Ivete pelos seus 80 anos bem vivido e feliz. Deus te abençoe, e te faça ainda mais feliz. Obrigada por construir e contribuir com nossa história.