Desaforo
Nestas últimas semanas tenho tido a insatisfação de ver despejada nas redes sociais vozes que em palavras vociferam ódio e divisão. Por alguns instantes fico a me perguntar se estou realmente no meu Brasil, país que amo e respeito, de um povo conhecido como pacífico e acolhedor, um povo de uma história de luta e resistência, independente da área que habitam, já que somos um país de dimensão continental.
E para complementar a minha indignação, nestes últimos dias, fui impelida a ler e ouvir críticas absurdas sobre o nordeste.
Uma amiga querida, Michelinelly Matos, me deu a sugestão de escrever sobre estas questões que se apresentam no meu coração de brasileira e nordestina, como um fato estarrecedor.
Será que estamos voltando no tempo?
Há aproximadamente uns três anos tenho tido a oportunidade de conhecer várias partes deste país, principalmente nas regiões sul e sudeste socializando a experiência da educação de nossa Brejo Santo.
Sempre comento com os colegas da receptividade e da afetividade com que sou recebida. O respeito e o valor que nos dão pelo fato de que mesmo em meio as adversidades resistimos e vencemos.
Quantos filhos e amigos do coração tenho espalhado por este imenso país chamado Brasil!
Por isso mesmo não consigo compreender de onde provem tanto ódio e discriminação.
Darcy Ribeiro, grande antropólogo dizia ser o brasileiro, um povo único e com características diferenciadas das outras nações:
Temos aqui duas instâncias. A do ser formado dentro de uma etnia, sempre irredutível por sua própria natureza, que amarga o destino do exilado, do desterrado, forçado a sobreviver no que sabia ser uma comunidade de estranhos, estrangeiro ele a ela, sozinho ele mesmo. A outra, do ser igualmente desgarrado, como cria da terra, que não cabia, porém, nas entidades étnicas aqui constituídas, repelido por elas como um estranho, vivendo à procura de sua identidade.
Quando lhe perguntavam o que é o brasileiro, ele respondia: O brasileiro é produto de três etnias que foram gradativamente perdendo a identidade, afastando-se das suas raízes. O nativo se desindianizou, o negro se desafricanizou e o branco se deseuropeurizou, gestando o que ele denominou de PROTOCÉLULA ÉTNICA NEOBRASILEIRA.
E continuava: "Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos viveu por séculos sem consciência de si... Assim foi até se definir como uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros.
Isso nos leva a crer que somos um só povo. Passados pelo moinho.
E porque tanta divisão e discórdia?
Diante disso tudo, lembro-me da citação de Milton Santos, geógrafo e historiador, que nos leva a refletir:
...“
Existem apenas duas classes sociais, as do que não comem e as dos que não dormem com medo da revolução dos que não comem.
Finalizo este desabafo ainda com as sábias palavras de Milton Santos:
Milton Santos
Se não é capazes de conviver com as diferenças e divergências...
Tente ao menos ser feliz!
Por uma humanidade melhor !
Jacqueline Braga