quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Madson Vagner escreve sobre a crise que ameaça o mandato do presidente.

 Implosão: Líder do PSL chama Bolsonaro de “vagabundo”
A guerra declarada entre o presidente Jair Bolsonaro e o seu partido, o PSL, chegou a níveis de enfrentamento que beiram a baixaria e ameaçam a estabilidade da sua estada no Planalto. Em Brasília, um áudio do ex-líder da bancada do partido, deputado Delegado Waldir, vazou expondo o nível de tensão interna. Waldir chama Bolsonaro de “vagabundo”.



“Eu vou implodir o presidente, aí eu mostro a gravação dele; eu tenho a gravação. Não tem conversa; não tem conversa, eu implodo o presidente. Parou, acabou. Eu sou o cara mais fiel e esse vagabundo. Eu votei nessa porra. Eu andei no sol 246 cidades; no sol gritando o nome desse vagabundo,” desabafou Delegado Waldir em reunião da liderança em Brasília.

A conversa foi gravada pelo deputado Daniel Silveira, que admitiu ter se infiltrado na reunião para gravar Waldir e blindar Bolsonaro. “Era uma estratégia pensada. Eu, Carlos Jordy (PSL-RJ), Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Carla Zambelli (PSL-SP), Bia Kicis (PSL-DF). Todo o grupo do Jair para gente poder blindar o presidente,” afirmou Silveira, em entrevista à Revista Exame.

A estratégia teria sido pensada em reunião com o próprio Bolsonaro e outros 20 deputados no Palácio do Planalto. O plano era se infiltrar no grupo ligado a Luciano Bivar. Em disputa a liderança do partido na Câmara. Aliados de Bivar tentavam manter Waldir no cargo, enquanto a ala ligada ao presidente tentava emplacar Eduardo Bolsonaro. Na briga, Bivar tem levado a melhor.

 Joice Hasselmann: “Traição é o modus operandi de Bolsonaro”
O esquema traçado pelo próprio presidente Bolsonaro para espionar aliados, ratifica o que foi dito pela deputado paulista Joice Hasselmann, dissidente da base governista. Ela avalia que o esporte predileto de Jair Bolsonaro é trair. “É claro que é uma traição absolutamente clara. Mas eu deixei também de forma muito franca que eu jamais seria a primeira a trair,” disse.

Para a deputada ser traído por Bolsonaro é apenas uma questão de tempo. “Eu sabia que cedo ou tarde eu seria traída, porque é o modus operandi. Todos que trabalharam muito, tiveram uma confiança dedicada ao próprio presidente em algum momento passaram por isso,” afirma Joice, que exemplifica: “veja o caso de Gustavo Bebianno, depois o Santos Cruz, amigo de quarenta e tantos anos,” diz.

Sobre o futuro, a deputada disse que continuará se dedicando ao “mandato e a candidatura à prefeitura” de São Paulo. Joice deu a entrevista à jornalista Naira Trindade, após ser destituída da liderança do governo.

Milícia: o fantasma de Eduardo está de volta
Em entrevista à revista Crusoé, o deputado Delegado Waldir disse ter gravações que envolvem o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, com milícias do Rio de Janeiro. Em Brasília, a avaliação é que, se as gravações vierem à tona, Flavio perde o mandato e compromete o mandato do pai. Segundo a revista, Delegado Waldir disse que tem as provas e que se Bolsonaro vier, coloca tudo na mesa.

Em comentário na coluna Brasília-Ceará, da Rádio Plus FM, o jornalista Donizete Arruda, disse que Bolsonaro tinha uma denúncia contra Luciano Bivar, pronta para seguir à Câmara e ao Ministério Público, mas teria mandado esperar mais um pouco para ver o desenrolar dos acontecimentos. Contatos próximos ao presidente estariam assumindo que ele “não pegará para ver”.

Heitor x André: o Ceará dentro do escândalo
A expectativa de que o presidente Bolsonaro tenha sido grampeado, circulou em Brasília e acabou colocando o Ceará no meio da crise. Em Fortaleza, o deputado estadual André Fernandes (PSL) aponta o deputado federal Heitor Freira como autor das gravações. Os dois disputam o controle do partido no estado.

Em nota Heitor negou ter gravado e divulgado conteúdos de gravações. “Sempre estive na linha de frente na defesa do governo Bolsonaro e atritos internos no partido não farão com que eu mude de posição,” disse em nota.

André foi denunciado e convocado pelo Conselho de Ética do partido e pode ser expulso da sigla. Em vídeo divulgado nas redes sociais, André acusa o partido de perseguição política. “Não irão me calar! Meu partido é o Brasil e sigo firme com meu presidente Jair Messias Bolsonaro,” escreveu André no Twitter.

 A tensão pode chegar no Congresso
Em São Paulo, o deputado Eduardo Bolsonaro, e no Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, já foram expulsos do partido. No PSL, a ordem é expulsar todos os aliados do presidente Bolsonaro. Os filhos foram os primeiros.

A crise que se instalou no partido do presidente, agora, promete chegar a base governista no Congresso. Entre os aliados que permanecem ao lado de Bolsonaro, a avaliação é que a hora é de recuar. Exemplos como dos ex-presidentes Fernando Collor de Melo e Dilma Rousseff, são colocados como frutos do enfretamento com o Congresso.

Insatisfeitos com o governo Bolsonaro, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Davi Alcolumbre (PSL), estariam a espera de uma oportunidade para derrubar Bolsonaro.

A afinidade entre os dois estaria, inclusive, motivando uma aliança permanente. DEM e PSL já se articulam para fazer a fusão das siglas e fortalecer o comando das duas Casas. A ideia seria dar seguimento as denúncias, por exemplo, de familiares do presidente envolvidos com milícias.

A Justiça não julgará possíveis crimes cometidos antes de Bolsonaro se tornar presidente, mas uma possível comoção popular diante da gravidade das denúncias, pode gerar uma reação do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso para afastar Bolsonaro.

Hoje, o consenso em Brasília é que a sustentação política de Bolsonaro é instável e preocupa todos que rodeiam o presidente.

(Esta reportagem foi composta por publicadas nos veículos: G1, CN7, Brasil 247, Rádio Plus FM e revista Exame).


*Da redação do Blog do Farias Júnior com dados do Madson Vagner