ENTRE O VISÍVEL E O INVISÍVEL
Os dias se arrastam. Jamais pensei que algum dia escreveria isso. Como em um globalizado? E o tempo não voa?
Não sei com vocês, mas todos os dias deito com aquele imenso desejo de acordar e tudo isso ter passado. Muitas vezes me pego duvidando do que é real.
Vem a mente um livo que li ainda como universitária, indicado pelo professor de Filosofia, A peste, do escritor argelino Albert Camus, uma versão romanceada da filosofia existencialista. A peste é um livro que trata da solidariedade , da liberdade de escolha e da responsabilidade sobre nossas escolhas.
Em uma cidade do norte da Argélia , em 1940, acontece uma invasão de ratos que causava muita febre e morte. Decretou-se um “estado de praga”. Os muros da cidade foram fechados. Iniciou-se a quarentena.
Famílias foram separadas. Os mais doentes foram conduzidos para outros pontos da cidade. A peste metaforicamente era uma alusão a atitude de incredulidade para com o absurdo, gerando revolta necessária e libertadora.
O quadro aflitivo do romance retrata bem o que estamos vivenciando nos dias atuais.
Parece que a ficção transforma-se numa cruel realidade.
Fico aflita. Tento me amparar no sentimento que me move: a fé. Recordo-me do poeta e cantor Zeca Baleiro na sua canção Telegrama:
Por isso hoje eu acordei
Com uma vontade danada
De mandar flores ao delegado
De bater na porta do vizinho
E desejar bom dia
De beijar o português
Da padaria...
E hoje acordei assim: com um desejo enorme de retornar a minha velha rotina. De conversar...virtualmente não vale. De abraçar muito. De beijar e dizer repetidas vezes aos que fazem parte da minha vida: como não amar?
Retorno a minha missão a partir de uma citação de Mia Couto:
Ensinar é sempre transpor o imediato. É ensinar a escolher entre sentimentos visíveis e invisíveis. É ensinar a pensar no sentido original da palavra “pensar” que significa “curar” ou “tratar” um ferimento. Temos de repensar o mundo no sentido terapêutico de o salvar das doenças pelas quais padece.
Por uma humanidade melhor!
Jacqueline Braga