domingo, 26 de julho de 2020

Fátima Teles - O andor do menino Deus e a procissão do Sagrado Coração de Jesus.


 A festa do Sagrado Coração de Jesus, Padroeiro do Município de Brejo Santo, era seguida de um novenário de nove noites e a procissão sempre aos domingos para finalizar a grande festa.

         O domingo da procissão era um dia atípico. Não tinha o ar de descanso ou de preguiça. Os lares das pessoas que organizavam os andores eram festivos, perfumados, com o cheiro das inúmeras flores que iriam adornar os respectivos andores. Toalhas de renda, estandartes, tudo fazia parte da ornamentação das padiolas.
         Na casa de Tio Heráclito não era diferente. Sua esposa, dona Maria, a quem me foi ensinado chamar de tia Maria. Era uma alegria ver o menino Deus todo paramentado com flores e rendas. Uma imagem linda! Deitado na charola de braços abertos parecia uma criança recém-nascida. 


 A estrutura do andor era de madeira. Na parte central ficava o santo com os seus adornos e havia nas duas laterais, dois pedaços de madeira que complementavam o artefato e serviriam para as quatro pessoas carregarem o santo. O andor era sempre levado por quatro pessoas.
         Guardo as melhores recordações de tia Maria, especialmente de suas expressões faciais, pois é o que mais observo nas pessoas. Seu jeito calmo e sereno, sua voz suave, o sorriso doce e o olhar tranquilo e empático de quem compreendia as diabruras e peraltices das crianças. Só os idosos que adquiriram sabedoria sabem conquistar essa paz e quietude. Ela era doce e se eu fechar os meus olhos por instantes, é fácil vê-la ainda em toda a sua simpatia.
          O andor arrumado por ela acompanhou várias gerações:
         A geração de suas netas Diana e Heloísa. Posteriormente vieram as netas Vaneide, Eliana, a sobrinha Ana Lúcia. Logo depois foi a nossa experiência: sua neta Valdna e as amigas de seu tempo Cardinale, Rosângela e eu. Nós quatro levávamos o menino Deus como se carregássemos um tesouro. Houve um tempo que Rachel (irmã de Cardinale) segurava uma das fitas que enfeitavam o estandarte e reclamava por todo o trajeto. Como era mais nova que nós e ainda pequena, dizia que nós íamos numa posição melhor que ela (sempre foi reclamona...rsrsr).
         Em uma das procissões, eu já sentindo os ombros doerem e um pouco cansada, comecei a conversar com a parceira ao lado para me distrair. Comportamento normal para a idade, tínhamos entre oito ou dez anos. A catequista dona Maria Alacoque, não sei por que nos acompanhou durante o caminho percorrido e me vendo conversar, fez-me uma reclamação e não tendo eu obedecido, ela deu uma bengalada nos meus tornozelos. Para piorar a situação, nós não paramos de sorrir.
          A procissão do Sagrado Coração de Jesus é belíssima. O cortejo é imenso e percorre muitas ruas do centro. Todos os santos da Igreja Matriz são carregados em andor. Nesse dia todos os santos e todas as santas saem para serem reverenciados pela população e para saudarem ao padroeiro, santo da Matriz que leva o seu nome.
         Outras gerações depois de nós continuaram a levar o menino Deus:
         Bisnetas, bisnetos, alguns sobrinhos e algumas sobrinhas. Assim como filhos e filhas de grandes amigos e amigas Herene, Helen, Terciana, Louise, Giovanni, Victor, Norberto, Arthur, Iasnáia, Rosana, Glauciane, Carola, Gabriela, Renata, Georgiana, Janine, Ana Cecília, Helana, Horungan Filho, Yanca, Lívia, Ívina, Maria Eduarda, Vitória, João Gabriel, João Lucas...







 A tradição continua. Isso é o que eterniza a História.  Atualmente o andor do menino Deus é adornado pela sua neta Herbênia Miranda Lucena Barros, ex-secretária de Educação Municipal.
         Esse texto é uma recordação de minha infância e homenageia a senhora Maria Alves de Lucena que foi casada com meu tio Heráclito Alves de Moura, grande comerciante do Município de Brejo Santo. O casal teve três filhos: Valter Alves de Moura, Maria Heraclides Lucena Miranda e Edmar Alves de Lucena.

Infelizmente não tinha nenhuma fotografia das primeiras gerações e nem da minha época. apenas há registros das gerações da década de oitenta até os dias atuais.

As fotos foram cedidas pelas netas Herbênia Miranda Lucena Barros e Heloisa Miranda Lucena Martins.


Fonte informativa:
Heloisa Miranda Lucena Martins
Cardinale Alves Gomes.