terça-feira, 1 de novembro de 2022

Ceará registra aumento nos casos de tuberculose

Foto: Barbara Moira

A área da saúde ainda sofre os impactos da pandemia de covid-19, mesmo com o arrefecimento do número de contaminados pelo coronavírus. A força-tarefa voltada para combater o avanço dos casos fez com que diagnósticos de outras doenças fossem impactados, como é o caso da tuberculose. 

      

No Ceará, o número de diagnósticos da doença saltou de 3.307 para 3.503, com aumento de 5,9%, entre os anos de 2020 e 2021, de acordo com o boletim epidemiológico anual de tuberculose, publicado em março deste ano, pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa).


Em âmbito global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, pelo menos 10,6 milhões de pessoas foram contaminadas em 2021, o que representa um aumento de 4,5% em relação aos casos registrados em 2020. A OMS estima que 4,1 milhão de pessoas sofrem de tuberculose, sem diagnóstico.                            

     

A pneumologista e responsável pelo ambulatório de tuberculose multirresistente do Hospital de Messejana, Tânia Brígido, detalha alguns sintomas que devem servir de alerta.


"Orientamos que tosse por duas ou três semanas, que não tenha uma causa determinada, é um indício para se investigar tuberculose. Os primeiros sintomas são tosse e febre, que não costuma ser elevada, o que faz com que, muitas vezes, não seja levada em conta", destaca a especialista.


Outros sintomas podem aparecer à medida que a doença progride, como perda de peso, fraqueza de modo geral, chegando até, em estágios mais avançados, a hemoptise, que consiste na eliminação de sangue pelo trato respiratório.


Tânia Brígido destaca que muitos pacientes só buscam atendimento em estágios mais avançados, o que prejudica o tratamento, que possui um diagnóstico considerado simples. A médica ressalta que testes rápidos são disponibilizados em diversas unidades de saúde do Estado, que identificam a doença pela expectoração.


Mesmo com o aumento de casos no Ceará, o número de diagnósticos ainda é menor do que o cenário apresentado antes da pandemia. Em 2017, 3.606 casos foram registrados. Já em 2018, o número de infectados foi de 3.930. Por fim, em 2019, último ano antes do início da pandemia, foram 3.925 casos.


De acordo com o boletim da Sesa, entre os anos de 2017 e 2021, 1.021 pessoas morreram em decorrência da tuberculose, no Ceará. Em 2021, foram 191 óbitos registrados, o que mostra um aumento em relação a 2020, quando 174 pessoas morreram.


Abandono ao tratamento preocupa

O tratamento inadequado da doença é um dos fatores que podem levar ao agravamento do quadro. Tânia Brígido explica que a sensação de cura de forma precoce faz com que muitas pessoas interrompam o tratamento antes da hora.


"É preciso fazer os seis meses de tratamento, que são preconizados pelo Ministério da Saúde. Muitas vezes no terceiro ou quarto mês o paciente deixa de apresentar sintomas e passa a achar que já está curado, o que não é verdade".


O tratamento incompleto faz com que a doença possa ganhar maior resistência aos medicamentos, o que traz a necessidade do combate se tornar mais agressivo e duradouro. "Nesses casos, o esquema básico de seis meses já não funciona. Se adota um novo tratamento, de 18 a 24 meses, com uma quantidade maior de medicamentos", explica a especialista.


Entre anos de 2017 e 2020, o primeiro ano de pandemia foi o que registrou a maior proporção de abandono ao tratamento, com um índice de 13,4% de um total de 3.307 casos, superando os 12,2% observados em 2017, quando 3.606 diagnósticos foram realizados.


Visando diminuir os índices de abandono, o Ministério da Saúde recomenda que o tratamento seja realizado de forma supervisionada, seja com a aplicação da medicação realizada em uma unidade de saúde ou com a visita de profissionais em domicílio.


No Ceará, o Tratamento Diretamente Observado (TDO) está em queda desde 2019, quando 44% dos pacientes estavam em TDO. Em 2021, o número de pacientes acompanhados foi de 33,9%. O maior índice dos últimos anos foi registrado em 2017, quando 45,3% dos pacientes estavam em TDO. A pandemia é vista como um fator que dificultou o processo durante os últimos dois anos.


"A gente percebe que houve uma limitação por conta da pandemia. Apesar da gente ter continuado trabalhando, sempre tivemos o cuidado de fornecer medicamentos para um tempo maior", explica Brígido, que tem esperança de que o cenário possa ser revertido em breve.

 

*Da redação do BFJR com dados do O POVO.