quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Policial denunciado por assediar advogadas no Ceará confessa crimes e alega transtorno psiquiátrico

O policial penal denunciado por assédio sexual de advogadas que atuam na Região Metropolitana de Fortaleza confessou, em depoimento, os crimes contra as profissionais e alegou transtorno psiquiátrico. O policial penal apresentou um atestado médico.


A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) afastou o agente. A CGD informou que um processo administrativo foi instaurado e o caso é investigado. Detalhes não serão repassados e segue em sigilo com objetivo de preservar as identidades das advogadas.


Conforme a denúncia, o servidor teve acesso a uma lista das advogadas que acessavam os presídios para visitar clientes, onde constava o contato telefônico delas. Ele usava redes sociais e aplicativos de mensagem para enviar mensagens constrangedoras. Uma advogada relatou que ele ofereceu R$ 2 mil para ter relação sexual com ela.


Desde a primeira denúncia, outras cinco mulheres relataram situações similares. Quatro já prestaram depoimento e outras duas estão com depoimentos marcados.


Na quinta-feira (3), o advogado dele, Walmir Medeiros, informou que o agente entregou o celular à perícia, mas não negou, nem confirmou, a versão apresentada pelas vítimas.


O homem ligava para as vítimas com número oculto e também mandava mensagens através de um perfil falso nas redes sociais. Uma das advogadas passa por esse assédio constantemente há um ano — mesmo período de tempo em que as outras vítimas foram assediadas pela primeira vez. Ela conseguiu convencê-lo a fazer uma videochamada, e assim identificou quem era o autor do assédio — posteriormente identificado como policial penal.


O advogado dele comentou sobre o depoimento. “Ele não disse nada em definitivo. Ele falou coisa genérica, sobre o comportamento dele, sobre como ele usava o celular. Não definiu se ele tinha alguma conversa com alguma delas especificamente. Ele deixou isso para o último depoimento”, explicou Medeiros.


No depoimento, ele não confirmou ou negou se tem contato com a denunciante — a que conseguiu fazer a videochamada. “Só depois, quando nós tivermos conhecimento dos depoimentos delas, é que ele falará. Por enquanto, ele está tentando organizar a cabeça dele para depois falar alguma coisa”, disse o representante da defesa.


O advogado argumentou ainda sobre o histórico do policial penal. “Sempre teve bom comportamento, sempre foi respeitado, nunca teve nenhum problema, denúncia de nada, de comportamento interno errado, nada”, complementou.


Mais de 30 ligações

“Nas ligações, o interlocutor falava diversas imoralidades, que estava se masturbando, que ia fazer isso e aquilo comigo. De início eu esculhambava, pedia para me deixar em paz. No entanto, ele insistia chegando a ligar mais de 30 vezes. Essa situação não parou, pelo contrário, foi se agravando”, relatou a vítima.


Foi esta vítima quem conseguiu convencer o suspeito a realizar uma videochamada, nesta segunda-feira (31), e capturou a imagem do rosto do homem — posteriormente identificado como agente penitenciário da Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL 2), em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza. Ele aceitou a videochamada após ela fingir que estava interessada nas propostas dele.


“Agi por conta própria para tentar identificar o assediador e desta forma fingi que queria e pedi a ele para fazer uma chamada de vídeo. Consegui então a foto e hoje buscamos os órgãos competentes para punir o agressor. Ainda estou muito abalada, pois as palavras de assédio são de extremo grau de ofensa, imoralidades e ainda pelo visível grau de descaso que o agente apresenta, demonstrando não temer a justiça e agindo como um maníaco sexual”, complementou a vítima.


“Toda vez que ela saía para realizar os atendimentos penitenciários, acontecia essas ligações com palavras do mais baixo calão possível. Perguntando quanto era o 'programa' dela, dizendo que ela estava muito linda com roupa tal. Aí ela começou a observar [como acontecia]”, explicou Raphaele Farrapo, advogada que representa uma das vítimas.


A advogada disse que a cliente dela, então, recebeu uma ligação em que o suspeito comentou sobre a roupa que ela usava. Foi neste momento em que ela identificou a unidade onde ele trabalhava, já que no mesmo dia ela usou a vestimenta para ir exclusivamente à CPPL II.


Raphaele Farrapo explicou que relatou o caso em um grupo de aplicativo de mensagens, onde estão outras advogadas. Então, as outras vítimas entraram em contato com ela, após notarem a similaridade dos casos. As vítimas desconfiam que o homem teve acesso aos números delas que constam no sistema da SAP, já que trabalham nas unidades prisionais do estado.

 

*Fonte: g1.