Foto: Reprodução/Fantástico |
Wellington Macedo é apoiador radical do ex-presidente Jair Bolsonaro e teve um cargo no ministério de Damares Alves. Ele está foragido pelos atentados a bomba ocorridos na véspera do Natal em Brasília. Outros dois suspeitos de envolvimento no caso estão presos.
O caso de vilipêndio de cadáver em Sobral ocorreu em março de 2020, quando o município ainda não tinha registrado óbitos pela Covid.
Conforme os documentos aos quais o Portal g1 teve acesso, na denúncia consta que Macedo fez postagem em sua rede social do caixão aberto com o corpo enrolado em um pano branco, com um papel escrito "Óbito Covid-19". Na legenda ele divulgou a identidade da mulher de 51 anos e afirmou que ela era a primeira vítima da doença no município.
A mulher citada por Wellington Macedo tratava-se de uma moradora da localidade de Rasteira, na cidade de Forquilha, que havia sido transferida para o Hospital Regional Norte (HRN) após dar entrada na unidade de saúde local com dormência no corpo. Posteriormente ficou comprovado que o óbito dela não foi por Covid.
O blogueiro ainda postou vídeos em seu canal no YouTube repercutindo o caso e acusando o prefeito Ivo Gomes, que estava em seu primeiro mandato, de esconder o caso da população. Na ocasião, Ivo se pronunciou através das redes sociais negando o óbito.
"Quando tiver, se tiver, serei o primeiro a vir a público com a informação. Não há razão para esconder", disse o prefeito, pedindo a população para evitar o compartilhamento de notícias que gerassem medo.
A primeira morte por Covid em Sobral foi confirmada em 30 de março de 2020. A vítima foi uma mulher de 60 anos, moradora do município de Santa Quitéria, que estava internada no Hospital Regional.
Família da vítima denunciou o caso
Após a repercussão da fake news com a foto do cadáver, a família da vítima procurou a Delegacia Municipal de Sobral para denunciar o uso da imagem com informações falsas, já que na declaração de óbito dela constava "causa indeterminada" e a mulher não havia apresentado sintomas gripais.
Conforme o depoimento dado pela filha da vítima, que terá a identidade preservada, quando o corpo da mãe chegou à casa, os parentes foram informados que o hospital não teria autorizado o velório e que o corpo deveria ser conduzido imediatamente para o cemitério.
Mesmo com as recomendações, a família ficou desconfiada e abriu o caixão no cemitério, momento que viram o corpo enrolado no lençol, com o papel alertando sobre óbito por Covid, e fizeram uma foto para questionar ao hospital. A imagem foi a mesma publicada sem autorização pelo blogueiro.
Segundo a filha, no mesmo dia do enterro ela soube que a foto da mãe morta estava sendo divulgada por Wellington Macedo, que chegou a procurá-la por telefone.
Ainda de acordo com a jovem, ela buscou o Hospital Regional Norte dias após a publicação do blogueiro e recebeu a cópia do exame que constava que o exame de sua mãe havia dado negativo para Covid. A unidade não soube lhe dizer o motivo do papel com o alerta ter sido colocado dentro do caixão.
O Portal g1 procurou o HRN para falar sobre o caso, mas até a publicação desta reportagem a unidade não se manifestou.
Após a conclusão das investigações, Wellington Macedo foi autuado pela Polícia Civil no Artigo 41 da Lei de Contravenção Penal, por provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto; e no artigo 212 do Código Penal, por vilipêndio de cadáver.
A denúncia contra Macedo foi recebida e a Justiça determinou a citação do réu para responder à acusação.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública do Ceará, Welington Macedo já tem antecedentes por contravenção penal, denunciação caluniosa e crime contra a incolumidade pública. Ele também é investigado por dano qualificado, incêndio majorado, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado.