O Mestre da Cultura Francisco Gomes Novaes, o Mestre Nena, de 71 anos, denunciou que ele e sua família foram vítimas de uma abordagem violenta por parte de policiais militares na tarde de sábado, 21, em Juazeiro do Norte. Ele conta que tanto ele quanto os filhos dele foram agredidos pelos PMs e que um disparo de arma de fogo foi efetuado na ação.
Em entrevista a O POVO, Mestre Nena relata que, momento antes da abordagem, estava trabalhando em sua casa, onde também funciona o Museu Orgânico Casa do Mestre Nena, localizado no bairro João Cabral. Por volta das 13 horas, ele deixou o trabalho e foi almoçar. Foi quando se deparou com uma ação policial na casa de um de seus filhos, contra quem havia denúncia de posse de armas e de drogas.
Nena conta que uma de suas netas disse para ele que um outro filho do mestre estava sendo agredido pelos policiais, que ainda teriam trancado filhas dele em uma casa para que elas não acompanhassem a abordagem. Seriam três as viaturas policiais que participavam da ação.
Mestre Nena diz ter tentado conversar com os PMs para que as agressões parassem, mas um dos agentes, em vez disso, efetuou um disparo. Mestre Nena disse que o tiro não o intimidou e que ele continuou indo em direção aos policiais, o que fez com que um deles o desse dois tapas.
“Aí, veio para me chutar, para pegar no ‘pé da barriga’. Eu fui e pulei para trás um pouco, esguei o corpo e pegou na minha mão. Tô aqui com os três dedos inchados e muito doloridos”, relata.
Foi só depois da agressão, continua o mestre, que os PMs ordenaram que ele botasse a mão na cabeça. Mesmo assim, as agressões contra um de seus filhos continuaram. Mestre Nena conta que até mesmo um pau foi usado nas agressões. Ele ainda teria sido espancado com golpes que visavam, principalmente, a região de sua cabeça.
A sessão de agressões teve fim quando os PMs foram chamados para uma outra ocorrência. Eles saíram do local sem apreender nenhum ilícito nem fazer nenhuma prisão. Mestre Nena e sua família, então, foram até uma delegacia fazer um boletim de ocorrência sobre o caso. Exame de corpo de delito também foi feito.
Além disso, um ofício foi feito por uma advogada solicitando providências sobre o episódio. Entre os pedidos estão: que seja informado os nomes dos PMs que estavam em serviço naquele dia; o acautelamento das armas utilizadas pela composição policial; comparação balística no projétil recolhido pelos familiares no local do episódio; e que os policiais se apresentem de forma a permitir que o Mestre Nena reconheça os PMs que praticaram as agressões.
“Tudo o que podia ser feito, nós fizemos”, diz Mestre Nena. “Graças a Deus, eu estou bem, até agora. O problema que estou é porque eu nunca ‘dei’ em ninguém, nunca apanhei e eu fiquei um pouco revoltado com o que aconteceu”, também disse. “O que eu estou querendo é Justiça, para que não aconteça com outras pessoas”.
Em nota conjunta, a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará) e a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirmaram estar cientes da denúncia. "As duas secretarias estão acompanhando a investigação e, diante dos fatos esclarecidos, serão tomadas as providências cabíveis", afirma a nota.
Notas de apoio
A Secretaria de Cultura de Juazeiro do Norte emitiu nota de repúdio sobre o episódio. Conforme a nota, ofício foi enviado ao comando da Polícia Militar solicitando esclarecimentos sobre o ocorrido. “Em seguida, o secretário colocou à disposição do Mestre e de sua Família as ferramentas jurídicas e administrativas da Secult para abertura de denúncia e apuração dos fatos”.
Por meio de sua conta no Twitter, o deputado estadual Renato Roseno (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado, afirmou que o órgão também irá acompanhar o caso.
O Sistema Fecomércio do Ceará, por meio do Serviço Social do Comércio (Sesc), também emitiu nota de solidariedade. "A entidade demonstra seu repúdio e exige averiguação rigorosa dos fatos".
Saiba Mais sobre Mestre Nena
Mestre Nena é considerado Tesouro Vivo do Ceará pela Secult. Ele é fundador do Bacamarteiros da Paz, grupo bacamarteiro, que reúne diversas manifestações do folclore nordestino. Mestre Nena se dedica à arte desde criança — já são 50 anos no ofício. Clique aqui e conheça mais da trajetória de Mestre Nena.