domingo, 5 de fevereiro de 2023

Transplantes de órgãos e tecidos figuram projeções positivas para 2023

Foto: Fábio Lima

Em 2022, o Ceará cresceu 11,63% no total de transplantes de órgãos realizados, de acordo com balanço do portal IntegraSUS, comparando ao ano anterior. A categoria de tecidos e células atingiu o melhor patamar desde 2017, com 1.242 mil cirurgias realizadas.   

                             

Após três turbulentos anos para a sociedade, ocasionados pela pandemia da Covid-19, a coordenadora da Central de Transplantes estadual, Eliana Régia, avalia que o crescimento generalizado em todos os tipos de transplantes de órgãos, e o aumento significativo dos transplantes de tecidos, criam um cenário favorável para o retorno da "normalidade" em 2023.


No entanto, um obstáculo observado pela coordenadora é a fomentação do diálogo sobre a temática. “Embora o Ceará tenha o menor número de 'negativa familiar' do Nordeste, é importante conversar com familiares e amigos sobre o desejo de ser um doador. Deixe claro para eles [familiares] — que devem autorizar a doação de órgãos — e incentive-os a fazerem o mesmo.”


“Uma vez a população esclarecida, maior será o desejo das pessoas em serem doadoras”, ensinou.


Doadores potenciais e efetivos

A taxa de potenciais doadores foi a maior já registrada na história do Estado. Os dados são do último Registro Brasileiro de Transplante (RBT), da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Conforme o levantamento, foram 696 notificações.


O quadro de doadores efetivos apresentou melhora de quase 25%, quando equiparado a 2020 e 2021. Todavia, o resultado foi inferior ao obtido em 2019.


Resultados da Covid

Apesar do programa ter continuado no decorrer dos três últimos anos, o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), que possui um dos cinco maiores centros transplantadores do Brasil, deu prioridade ao atendimento de cidadãos infectados com a doença.


Ronaldo Esmeraldo, responsável técnico do transplante renal do HGF, revela que "durante todo o grosso da pandemia, no início de 2020, até meados de junho, perdemos a unidade".


"A segunda onda, em 2021 e 2022, chegou ainda mais forte. Neste período, tomaram não só a unidade, como não tínhamos espaço para receber cerca de três mil pacientes já transplantados que precisavam de assistência”, ponderou.


Para Esmeraldo, o ano passado foi aquém das expectativas. "Achávamos que retornaríamos aos níveis de 2019. Fizemos 100 transplantes. Foram 18 a mais do que em 2021 e 2020, o que não é ruim", disse. "Mas, até dezembro de 2019, eram cerca de 160 a 180. Um grande centro deve realizar 90 transplantes por ano”, completou. 


Nove anos de espera

Maria da Conceição Oliveira Duarte, de 36 anos, aguardou, por nove anos, por um transplante de rim. Antes de se direcionar ao HGF, ela buscava ajuda no Hospital Santa Casa, em Sobral, a 234,8 km da Capital. 


Ao iniciar os exames, em 2012, os dois rins estavam no presságio da paralisação total. “Comecei a ficar com as pernas inchadas, a ficar cansada, principalmente a noite. Nem imaginava que poderia ser problema renal, praticamente ninguém ouvia falar".


Vista as complicações, ela começou o procedimento da hemodiálise, onde passou um ano e seis meses. “Me sentia triste. Via outras pessoas, que faziam hemodiálise a menos tempo do que eu, sendo transplantadas", descreveu. Ao mesmo tempo "tinha fé que um dia ia dar certo, que Deus estava preparando algo”, completou.


A lista mais recente da fila de espera de 2022, disponibilizada pelo IntegraSUS, comprova que esta realidade não é isolada. Para tanto, somente no âmbito dos transplantes renais, são mais de mil pessoas no aguardo do doador ideal.


Como doar

No caso de doação em vida é permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de órgãos, tecidos ou parte do corpo vivo para fins de transplante ou terapêutica, somente nos seguintes casos: órgãos duplos, partes de órgãos cuja retirada não impeça o organismo do doador de continuar vivendo sem risco, quando não há grave comprometimento das aptidões vitais e da saúde mental, quando não causar mutilação ou deformação inaceitável.


A realização de transplantes ou enxerto de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano só poderá ser realizada por estabelecimento de saúde, público ou privado, e por equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante previamente autorizadas pelo órgão de gestão nacional do Sistema Único de Saúde (SUS).


A retirada “pós-morte” de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina.


Será admitida a presença de médico de confiança da família do falecido no ato da comprovação e atestação da morte encefálica.


Após a retirada de partes do corpo, o cadáver será condignamente recomposto e entregue à família ou responsáveis legais para sepultamento.



*Fonte: O Povo