Foto: Júlio Caesar |
Com 50 açudes sangrando e mais 12 na promessa de verter, já com níveis acima de 90%, o Ceará totaliza 41,5% de total de aporte hídrico neste domingo, 2. O volume virou junto com o mês, saindo de 39,9% no dia 31 de março para 40,7% no 1º de abril. Os dados são do Portal Hidrológico do Ceará, consultados no dia 2 de abril às 16h7min.
É a primeira vez em dez anos que o Estado ultrapassa a marca de 40%, quando, no final de março de 2013, chegou aos 40,7%. Na época, porém, nenhum açude sangrava: dois reservavam mais de 90%, enquanto outros 70 estavam entre os 30% e 89%. Foi apenas no final de abril de 2013 que o Tijuquinha, em Baturité, transbordou. É o menor dos reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado.
Apesar da cifra semelhante entre 2013 e 2023, a diferença se dá no cenário de chuvas. O Ceará vem do melhor março — mês de maior volume médio de precipitação no Estado — em 15 anos. Em 2013, era segundo ano de uma seca que fez o volume percentual chegar a 6% no início de 2018.
O secretário executivo de Recursos Hídricos do Ceará (SRH), Ramon Rodrigues, define o cenário atual como "confortável". "A região que, nos últimos anos, vinha sendo a com menos aporte, nesta quadra começa a ganhar mais recarga. Hoje nós podemos dizer que a situação hídrica do Estado, para o abastecimento humano, é confortável. Ainda temos alguns municípios que precisam de mais atenção, mas no geral a situação é bem melhor do que nos últimos anos", explica.
"Esperamos que assim como no ano passado, todos os açudes da Região Metropolitana (de Fortaleza) atinjam 100% de suas capacidades, nos dando mais segurança para Fortaleza e a Região Metropolitana". Atualmente, a sub-bacia metropolitana tem 71,97% de carga, com 10 de 23 reservatórios com 100% da capacidade.
Atualmente, os maiores aportes, que vão entre quase 100 milhões de metros cúbicos (m³) a menos de 500 mi m³, no decorrer de 2023 são dos açudes Castanhão (Alto Santo), Orós (Orós), Banabuiú (Banabuiú), Araras (Varjota), São Pedro Timbaúba (Miraíma), Itaúna (Granja), Frios (Umirim), Patu (Senador Pompeu), Edson Queiroz (Santa Quitéria) e Caxitoré (Umirim). São os reservatórios que mais "pegaram água". A informação é do relatório diário da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), publicado no domingo, 2.
Vale destacar que esses açudes ainda não sangraram. O volume relativo ainda é menor em relação aos que já verteram, mas ainda apresentam bons números. O Castanhão, por exemplo, alcançou 24,91%, maior nível desde janeiro de 2015. O Orós atingiu os atuais 54,47% pela última vez em março de 2013, enquanto em Banabuiú o volume é de 24,65%, o que não acontecia desde novembro de 2013. São os três maiores do Ceará.
No caso do Castanhão, maior reservatório do Brasil, o volume estava em queda vertiginosa desde junho de 2011, quando registrou pela última vez aporte acima de 80%. Dois anos antes, em maio de 2009, ele tinha alcançado inéditos 97,58% para a série histórica do Portal Hidrológico. Foi somente em maio de 2018 — ou seja, no último ano da seca que estendia-se desde 2012 — que o açude começou a crescer, timidamente, na reserva hídrica. Ultrapassou os 10% de aporte apenas em abril de 2020.
O secretário Ramon também destaca que o Castanhão não precisou enviar água para Fortaleza no último ano, dado o bom aporte dos açudes da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) em 2022. A expectativa é que, em 2023, os reservatórios mais próximos de Fortaleza e RMF continuem garantindo o abastecimento da região, poupando o desvio de águas do reservatório em Alto Santo.
O volume total dos açudes neste ano supera as marcas de 2022, que teve, então, a terceira melhor quadra chuvosa dos últimos dez anos. O balanço divulgado pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) na ocasião deu conta de que 2022 teve precipitações “em torno da média” e que o mês de março foi o mais chuvoso do quadrimestre.
Ressalta-se que para 2023 o prognóstico da Funceme é de 50% de chances de chuva acima da média entre fevereiro e abril. Há também 40% de chance de precipitações em torno da média e 10% abaixo da média. Em março, as chuvas foram acima do esperado em todas as 12 regiões hidrográficas do Estado.
Lista atualizada dos 50 açudes sangrando por região:
Coreaú
Itaúna
Gangorra
Tucunduba
Diamantino II
Angicos
Trapiá III
Acaraú
São Vicente
Acaraú Mirim
Jenipapo
Sobral
Arrebita
Forquilha
Litoral
Gameleira
Poço Verde
Missi
Quandú
Mundaú
São Pedro
Timbaúba
Patos
Gerardo
Atimbone
Santo Antônio de Aracatiaçu
Curu
Frios
Itapajé
São Mateus
Metropolitana
Cauhipe
Itapebussu
Germinal
Acarape do Meio
Malcozinhado
Pacajus
Tijuquinha
Aracoiaba
Pesqueiro
Batente
Sertões de Crateús
Sucesso
Do Batalhão
Banabuiú
São José I
São José II
Patu
Jatobá
Médio Jaguaribe
Riacho do Sangue
Alto Jaguaribe
Quincoé
Caldeirões
Muquém
Valério
Salgado
Ubaldinho
Olho dÁgua
Junco
Rosário
Cachoeira
Em Tamboril, rio Acaraú transborda e alaga ruas da cidade
O rio Acaraú transbordou em diversas ruas de Tamboril, município do Sertão de Crateús, a 286,4 km de Fortaleza. Vídeos compartilhados nas redes sociais neste domingo, 2, mostram uma barragem do rio com fluxo intenso de água, além de ruas tomadas pela água e atingindo construções.
Na madrugada deste domingo, foi relatado o rompimento de uma barragem na localidade de Oliveiras, no mesmo município. Em apuração, O POVO não conseguiu confirmação do caso. O açude Carão, abastecido pelo rio Acaraú, está com alta capacidade, mas ainda não sangrou.
Enquanto isso, Independência, município vizinho a Tamboril, registrava a maior chuva do Ceará nas últimas 24 horas: entre as 7 horas do sábado, 1º, e as 7 horas de domingo, foram mais de 180 mm de precipitação. Crateús, também limítrofe, ficou em segundo lugar, com 161 mm.
No restante do Estado, a quadra chuvosa também apresentou números significativos. Todas as macrorregiões do Ceará tiveram precipitação acima do esperado em março, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
A quantidade de chuvas traz boas notícias para a reserva hídrica do Estado, mas a falta de estrutura para lidar com as chuvas também gera perigos. Atualmente, 15 municípios cearenses estão em situação de emergência, enquanto Milhã (Sertão Central) decretou estado de calamidade pública devido a inundações e deslizamentos.
*Fonte: O Povo