sexta-feira, 19 de maio de 2023

Maio Amarelo: homens são 85% entre os mortos por acidentes de trânsito no Ceará

Foto: Aurélio Alves

Pelo menos oito em cada dez pessoas que morrem em acidentes de trânsito no Ceará são homens. É o que aponta o Boletim Epidemiológico de Mortalidade por Lesões no Trânsito, divulgado nesta quinta-feira, 18, pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). De acordo com o documento, entre 2009 e 2022, cerca de 85% dos óbitos causados por sinistros viários no Estado envolveram pessoas do sexo masculino.


No período analisado, pouco mais de 22 mil homens perderam a vida em decorrência de acidentes no trânsito nos 184 municípios cearenses. Já entre as mulheres, foram 3,7 mil óbitos, o que corresponde a 15% do total (25,7 mil). Considerando a série histórica e a soma dos gêneros, 2014 foi o ano com mais mortes (2,6 mil). Desde então, os números gerais apresentam queda: 2015 (1,3 mil), 2016 (1,9 mil), 2017 (1,6 mil), 2018 (1,5 mil), 2019 (1,38 mil), 2020 (1,32 mil), 2021 (1,28 mil) e 2022 (1,27 mil).


Apesar da redução, a proporção de mortalidade viária entre os homens se mantém num padrão muito acima das mulheres. Para o professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Flávio Cunto, o cenário pode estar relacionado a dois aspectos principais.


O primeiro, explica ele, tem a ver com a exposição maior de homens no trânsito. "A gente tem, normalmente, em termos de quilometragem, pessoas do sexo masculino conduzindo maiores trajetos do que mulheres. Isso está constatado em várias pesquisas". O outro fator, de acordo com o especialista, é a propensão maior de que homens se arrisquem mais do que as mulheres quando estão ao volante ou conduzindo veículos de duas rodas.


"É mais comum que homens excedam a velocidade ou façam ingestão de bebidas alcoólicas para dirigir, comportamento menos recorrente entre mulheres. Na maioria das vezes, essas duas questões (velocidade e bebida) estão diretamente conectadas com a causa da fatalidade", complementou Cunto.


Outra variável relevante na visão do médico e estudioso de sinistros de trânsito, Lineu Jucá, é a diferença de comportamentos entre homens e mulheres na condução de veículos. Ele considera que "as mulheres são muito mais cautelosas, observam mais, cumprem mais as regras. Então, isso impacta em menos acidentes". Segundo Jucá, a tendência dos homens se arriscarem mais no trânsito é fruto da construção social histórica da ideia de dominação masculina.  


Segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), cerca de 67% dos condutores habilitados no Ceará são do gênero masculino. Os dados mais recentes, de 2022, mostram que o Estado tem 1,6 milhão de motoristas do sexo masculino ante a 802 mil do sexo feminino. Esses indicadores, na avaliação do professor, também ajudam a explicar a incidência de mortes maior entre os homens.


O boletim da Sesa aponta que as fatalidades no trânsito são a segunda maior causa externa de mortes no Ceará, atrás apenas dos homicídios. Em 13 anos (2019-2022), mais de 25,8 mil cearenses perderam a vida em decorrência de sinistros viários, o que equivale a 22,5% do total de óbitos registrados no período (114,6 mil). Já as vítimas de assassinato foram 45,4% (52 mil).


No ano passado, a taxa de mortalidade no trânsito por 100 mil habitantes no Ceará foi de 13,8, a menor desde 2009. Em 2014, ano mais violento da série histórica, o indicador chegou a 29,8. Segundo o boletim, a incidência de mortes é maior entre motociclistas (39%) e menor no grupo de condutores ou passageiros de veículos pesados (1,1%).


O documento também apresenta um raio-x da mortalidade no trânsito por regiões. A maior incidência é no Norte do Estado, cuja taxa de óbitos por 100 mil habitantes é 31,5, seguida do Litoral Leste/Jaguaribe, com 24,6. Depois aparecem o Sertão Central (21,1) e o Cariri (16,0). A Região de Fortaleza tem o menor indicador (5,6).


Maio Amarelo 

A divulgação do boletim pela Sesa ocorre na esteira da campanha nacional Maio Amarelo, cujo objetivo é conscientizar motoristas e pedestres sobre os cuidados no trânsito. De acordo com a Secretaria, os dados apresentados no documento servirão para a formulação de políticas públicas que tenham como foco o enfrentamento à morbidade por lesões de trânsito. 



*Fonte: O Povo