Foto: Arquivo Pessoal |
Brejo Santo perde um de seus filhos ilustres. O comerciante José Sabino de Moura foi um dos fundadores do Brejo Santo União Clube, contribuiu muito junto com outros comerciantes para o progresso de nossa cidade. A chegada da energia elétrica, a fundação do Lions Clube, os calçamentos das ruas Tiburtino Inácio e Santa Teresinha. Conheça um pouco da vida do senhor José Sabino, através de uma entrevista, numa conversa com a escritora Fátima Teles no ano de 2017.
José Sabino de Moura (Zé Sabino)
A Família Alves de Moura veio de um distrito do Município de Sousa, Estado da paraíba. Vieram aproveitando a colheita do Pequi, fruta da região que ainda hoje é um ótimo produto para a venda. O patriarca foi João Antônio Alves de Moura, pai de Sabino Alves de Moura do primeiro casamento e do segundo casamento pai de Manoel Alves de moura, Heráclito Alves de Moura e José Alves de Moura.
O senhor José Sabino de Moura é natural de Brejo Santo, filho do senhor Antônio Sabino de Moura e da senhora Ana Pereira de Moura. Nasceu no dia Dezesseis de Março de Mil Novecentos e Trinta e seis, tendo completado oitenta e Dois anos.
Estudou na sua infância com a professora “ Tidinha”, na Escola do Sítio Duas Lagoas e também estudou com o Mestre Zé Luís. Fez apenas o primário.Já adolescente nutria uma vontade grande de ir embora. Um dia de sábado resolveu ir para a feira mesmo contra a vontade do pai. Foi cortar algodão e partiu. Dormiu na casa da avó. Pegou o cavalo, a roupa botou debaixo da capa da sela. Tinha juntado um dinheiro, pediu para um amigo de nome “Pedro bastião”, trazer a bagagem.
Já na Cidade, amarrou o cavalo no pé de fixo na rua do Juá, na casa de “Santina”. Um Caminhão de carga estava de saída para São Paulo e o senhor José falou com o Caminhoneiro para levá-lo, mas o motorista não queria. Porém, terminou levando –o. Seguiram viagem e passaram a madrugada na balsa do Rio São Francisco ainda em Pernambuco. Depois continuaram e passaram Vinte e Três dias na estrada para chegar a São Paulo. Nesse tempo longo o dinheiro ia se encurtando cada vez mais e a alimentação deles era frutas que compravam no meio do caminho.
Quando chegaram em São Paulo, passaram direto para a Cidade de Presidente Prudente. Lá o senhor José foi bem acolhido pela família do Caminhoneiro, chegando a se alimentar melhor e dormir num quarto só para ele. No entanto, os planos do senhor José Eram outros e seriam seguir viagem ao destino do estado do Paraná.
Chegando na Rodoviária viu logo uma placa da Empresa Santa Ana com destino ao Município de Santo Antônio do Caiuá e ele foi para esse destino. Chegou na cidade sem dinheiro e foi trabalhar na fazenda hortelândia por três anos, plantando, limpando e colhendo café. Depois seguiu para Jaracatiá e por lá ficou sete anos, trabalhando na roça e foi lá que aprendeu negociar com cereais.
Voltou para a terra natal no dia Vinte de Março de Mil Novecentos e Cinquenta e Nove. Aqui chegando botou uma roça de algodão branco e um comércio de cereais. Casou-se com a senhora Rita Bezerra de Moura em Mil Novecentos e Sessenta e Um. O casamento foi realizado na Igreja com a Monsenhor Dermival de Anchieta Gondim e o Juiz João Augusto.
Os frutos de seu casamento são os filhos amados:
Lúcia Rejane de Moura Macedo
Francisco Bezerra de Moura (Rogério)
Maria Rosângela de Moura
Maria de Fátima Moura
Renata Bezerra de Moura
O senhor José trabalhou por Cinquenta anos no comércio e se aposentou, mas depois continuou ainda a negociar até os dias atuais.
Ao longo de sua trajetória como comerciante teve três caminhões que transportavam os cereais para Fortaleza.
O senhor José foi um dos comerciantes que tiveram roça de algodão e nos tempos douradosquando o algodão era considerado o ouro branco em nossa região, eles juntamente com outroscompravam uma D20 todo ano.
O senhor José relatou que a melhor coisa a fazer nesse mundo é passar por ele fazendo amizadee fazendo o bem. Ele conta que teve um amigo no paraná chamado de César. Esse amigo saiude lá muito endividado, na seca de Setenta ( Século XX). Certo dia, ele estava tomando um caféem Vicente de Albertina, quando um Caminhoneiro parou e perguntou ao senhor Pedro Celião se ele conhecia o senhor Zé Sabino. César lhe contou sobre suas dívidas e lhe pediu um dinheiro emprestado. O senhor José lhe emprestou Duzentos Mil Cruzeiros. Um dia César apareceu e veio pagar a dívida.
Em Mil Novecentos e setenta e Dois teve uma seca e o senhor José enviou um Caminhão para Maringá, aos cuidados do caminhoneiro Zé Gonzaga. Chegando lá, um comerciante perguntou se ele conhecia José Sabino ao que prontamente o senhor Zé Gonzaga disse que sim. Depois dessa conversa tudo foi favorecido devido a amizade deixada pelo senhor José Sabino em sua passagem pelo Estado do Paraná.
O Senhor José Sabino foi um grande colaborador do desenvolvimento e progresso de Brejo Santo. Ele e outros comerciantes trouxeram em meados do Século Vinte alguns benefícios para a Cidade. Ele se emociona contando como lutaram coletivamente e em união para trazer algumas coisas para o Município e ajudar em seu crescimento e acesso a população.
Um grupo de amigos comerciantes trazia um benefício e assim que implantavam já lutavam por outro e assim deixaram sua marca na História do Município. Eu Esse exemplo de fraternidade sirva para as futuras gerações que vivem o individualismo.
Criação da Companhia Telefônica de Brejo Santo: Cinquenta (50) comerciantes se juntaram para trazer a Telefonia para a Cidade. A Telefonista que realizava as ligações era Iracema Silva (Iracema de Antônio Né) e o técnico era o seu irmão José Nilton Né.
Para essa telefonia ser criada um grupo criou uma associação e o senhor José era um dos associados. Um grupo de Cinquenta associados, entre eles: José Sabino, Pedro Tavares, o Juiz Gurgel, Juarez Sampaio, Emilio Salviano, Otacílio Alves, Aldênio leite, José Lucena, Ivan Leite Landim, Walter Moura, Edmar Alves de Lucena,etc.
O Presidente era Estênio Macedo, o secretário era o senhor José Sabino e o tesoureiro Leonir Rufino. Quem veio encampar a Companhia Telefônica de Brejo Santo foi o Coronel Alexandrino, chegando aqui de Teco Teco e baixando o mesmo no campo de aviação que ficava no Morro Dourado.
A Energia:
Os mesmos sócios se reuniram para trazer a energia para a Cidade. O Deputado Wilson Roriz , do Município de Jardim-CE, tinha colégio eleitoral aqui e orientou aos associados para comprarem as ações. Os sócios compraram as ações e fizeram as instalações. O Deputado disse que compraria um paletó para a inauguração e assim o fez. A inauguração foi na Praça ( que hoje recebe o nome de Dionísio Rocha de Lucena), os técnicos apertaram o botão e as casas foram todas iluminadas. Maria Pia chamou muito a atenção da sociedade que estava na inauguração, pois chegou muito elegante num caro Aero Willys.
O Brejo Santo União Clube:
Os mesmos sócios fundaram o Brejo Santo União Clube. Foi realizada uma reunião no Círculo
operário para pedir ajuda ao Governador Virgílio Távora, que atendeu ao pedido doando o poço
para o Clube. Coube a cada sócio a quantia de Cinquenta Mil Cruzeiros e depois mais Vinte e
Cinco Mil para terminar a obra. A obra teve início no dia Vinte de Janeiro de Mil Novecentos e
Sessenta e Quatro e inaugurou em Vinte de Agosto de Mil, Novecentos e sessenta e Quatro.
Foram seis meses de construção. A moeda do tempo era Cruzeiro novo. O Governador Virgílio
Távora veio para a inauguração do Clube. O Prefeito da época era Emilio Salviano.
O Primeiro Presidente do Clube foi Otacilio Alves, o secretário Deda Rufino e o Tesoureiro
Jocelino Moreira.
O senhor comerciante José Sabino também contribuiu para a construção do calçamento da Rua
Tiburtino Inácio e Rua Santa Teresinha, duas das ruas mais antigas do Bairro São Francisco.
Sobre o Calçamento da Rua TIburtino Inácio ( Rua do juá) e Rua Santa Teresinha:
Não cabiam aos associados, mas aos proprietários de comércio dessas ruas.
Era dividido em três terços. O meio do Prefeito, os lados eram dos proprietários e todo sábado
eles pagavam aos trabalhadores, O senhor José sabino era um dos proprietários.
O Senhor José sabino também foi um dos criadores do Lions Clube.
Os leões era os associados do Lions Clube e eles eram quase todos os associados que trouxeram benefícios para a população da Cidade. A toca do leão foi uma criação do Lions Clube. Os leões precisavam de uma churrascaria que os representasse. Dr Gurgel foi o enfrentante e o promotor Dr Tadeu. Compraram o prédio ao senhor Emilio Salviano e foram construir a churrascaria. Foram realizadas festas e rifas para a construção. fato marcante foi o São Pedro feito no sítio Cabaceiras, na casa do senhor José Lucena, para terminar a construção.
Os noivos juninos eram dona Lúcia e Josemar Lucena. Os carros seguiram com os noivos dando uma volta na rua e na volta, na pista ( que era estrada de chão),havia muitos carros eu acompanharam os noivos. Ao chegar no sítio foi forró a noite inteira, com comida típicas, milho a noite toda. O dinheiro desse São Pedro terminou a construção da Toca do Leão.
O senhor José Sabino se emocionou muito contando essa história. Suas lágrimas desciam de saudade. Foi uma das entrevistas que fiz mais bonitas. Minha intenção era lhe entrevistar como trabalhador, mas ele foi falando e quis contar a sua participação como empreendedor social.
O Banco do Brasil:
Os associados queriam trazer o Banco do Brasil para o Município. O Lions fazia ata e nada vinha.
Aqui tinha o Banco de Crédito Comercial. O gerente era José Ferreira (Não era de Brejo Santo). O gerente adjunto era Djalma Lucena.
Chegou o Banco do Brasil. O primeiro gerente foi José Siebra de Oliveira. O gerente pediu para os sócios comprarem ações. O senhor José Sabino comprou Duas Mil ações. O Banco ficava defronte a Chico de Sinésio. Havia a carteira de crédito rural (O responsável era Marcelino, que não era de Brejo Santo).
Os primeiros bancários foram João Batista, Nilson Cruz e Napoleão.
Terminei descobrindo que sou prima do senhor José Sabino. Somos Bisnetos do senhor João Antônio Alves de moura. O senhor José Sabino por parte do primeiro casamento do bisavô João Antônio Alves de Moura, eu por parte do segundo casamento do mesmo bisavô (Que na árvore genealógica estou o meu avô paterno Manoel Alves de Moura).
Entrevista realizada com o senhor José Sabino de Moura, no ano de 2017.