Foto: Wenderson Araújo |
Na proporção de casos para mortes, a média do Ceará ficou em 0,64, quase o dobro dos indicadores regional (0,34) e nacional (0,36). Os dados foram extraídos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). No geral, o Estado registrou quatro casos por dia e quase 130 ao mês.
Uma das ocorrências mais recentes, não computada pelo balanço, foi registrada no dia 19 de junho, em Santa Quitéria, a 190 quilômetros de Fortaleza. O ataque resultou na morte de um agricultor de 47 anos, atingido por um enxame enquanto tentava pegar uma cabra do seu rebanho que tinha escapado para um tereno baldio. As abelhas estavam escondidas debaixo de uma pedra e o homem teria pisado na colmeia sem perceber.
O levantamento do Ministério da Saúde mostrou que os ataques no Nordeste são mais frequentes em setembro devido às condições climáticas da região. No Ceará, segundo o capitão do Corpo de Bombeiros Erasmo Costa, é comum que haja crescimento nas estatísticas a partir de julho. "Neste mês elas [as abelhas] já começam a migrar de região, buscando novas fontes de alimentos", frisou.
O bombeiro explica que as abelhas atacam quando se sentem ameaçadas por vibrações, barulhos, cheiros fortes e movimentos bruscos. Alguns cuidados são essenciais para evitar incidentes graves. "Nunca se deve tentar retirar o enxame. Se for no quintal, isole a área e evite barulhos. Importante sempre manter a calma", orienta o capitão. As ocorrências devem ser informadas ao Corpo de Bombeiros pelo número 193.
Os militares realizam a captura das abelhas usando uma bomba de sucção. Em Canindé, o quartel da corporação desenvolve um projeto pioneiro para a preservação das abelhas que são resgatadas durante as ocorrências. Elas são levadas para um apiário –conjunto de colmeias– e recebem cuidados dos próprios militares.
Para o manejo correto do criatório, os bombeiros são orientados pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematerce). "Nosso objetivo é combater o extermínio e preservar as espécies de um jeito inovador", ressalta o bombeiro. O projeto, que funciona há cinco anos, mantém a criação de 18 colmeias. Elas produziram, apenas neste ano, cerca de 200 litros de mel. O alimento foi doado para hospitais e entidades filantrópicas da região.
Além de produzirem mel, as abelhas também liberam veneno por meio do aparelho inoculador (ferrão). Em caso de múltiplas picadas, as reações tóxicas podem causar choque anafilático e levar à morte. Segundo nota técnica do Ministério da Saúde, os sintomas mais graves são insuficiência respiratória, hipertensão arterial e coagulação sanguínea.
No balanço divulgado pela pasta, o Nordeste lidera o número de casos, com pouco mais de 12 mil ataques, metade do total registrado no País. Na sequência aparecem o Sudeste (6,808), Sul (2.826), Centro-Oeste (1.271) e o Norte (1.246). Foram notificadas 87 mortes em decorrência dos acidentes. Pernambuco encabeça a lista, com 12 óbitos, seguido pelo Ceará, Bahia e Goiás, com nove registos cada um.
O perfil das vítimas, segundo o Ministério, é majoritariamente masculino (66%), com idade acima de 40 anos (79%). Pretos e pardos representam 54% das mortes e 57% dos casos. Em relação à zona de ocorrência, 54% dos ataques são registrados em áreas urbanas e 39% em trechos rurais.
Ataques por abelhas em 2022 no Brasil
Rondônia: 56
Acre: 58
Amazonas: 101
Roraima: 150
Pará: 303
Amapá: 9
Tocantins: 569
Maranhão: 284
Piauí: 794
Ceará: 1.572
Rio Grande do Norte: 1.633
Paraíba: 558
Pernambuco: 3.988
Alagoas: 1.055
Sergipe: 294
Bahia: 1.930
Minas Gerais: 2.783
Espírito Santo: 351
Rio de Janeiro: 170
São Paulo: 3.504
Paraná: 1.556
Santa Catarina: 595
Rio Grande do Sul: 675
Mato Grosso do Sul: 426
Mato Grosso: 85
Goiás: 610
Distrito Federal: 150
*Fonte: O Povo