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O sumiço do prefeito, visto em público pela última vez no dia 12 de janeiro de 2023, levou o Ministério Público a abrir um processo administrativo para investigar o caso.
Veja como foi a votação dos vereadores:
Abstenção: Valdir Suburbão (PSB).
A favor da denúncia: Márcio Michel (PT), George Vieira (PDT), Sérgio Murilo (PL) e Lívia Maia (PL).
Contra a denúncia: Flauber Lima (PSB), Ângela (PSB), Heraldo Holanda (PSB), Domingos Bezerra (PSB), Francisco Diógenes (PSB), Sargento Arimatea (PV), Zé Neto (PSB), Valdemir Bessa (PV) e Professor Hélio Bastos (PSD).
A denúncia contra o prefeito foi protocolada pelo vereador Cabo Rubem (PL). Ele afirma que a ausência de José Maria Lucena viola a Lei Orgânica do município, que funciona como uma espécie de “Constituição” da cidade.
De acordo com a lei, o prefeito não pode se ausentar do município por mais de 15 dias sem permissão da Câmara dos Vereadores, sob pena de perda do mandato.
No momento da votação, Cabo Rubem não pôde registrar seu voto por conta de um regimento interno. Então ele se licenciou momentaneamente da cadeira e seu suplente, Serginho da Gangorra (PL), foi convocado para representá-lo e votou a favor da denúncia.
Para que a denúncia fosse aceita e fosse aberto um processo que poderia levar a cassação do prefeito, eram necessários oito votos, entre os 15 vereadores. Com o placar desta quinta-feira, a denúncia será arquivada.
Tratamento de saúde
Segundo assessores e advogados de Lucena, o prefeito, de 78 anos, está realizando tratamento de hemodiálise em Fortaleza três vezes por semana, para combater problemas renais.
Apesar disso, o gestor não solicitou licença médica, mas seus assessores garantem que Lucena está cumprindo plenamente suas funções de chefe do Executivo do município de 55 mil habitantes, um polo regional do Vale do Jaguaribe.
Há relatos de que Lucena está há meses internado e os únicos com acesso a ele são os secretários municipais, que para despachar com o prefeito vão a Fortaleza. Os vereadores de Limoeiro do Norte chegaram a protocolar na Câmara pedidos oficiais para reuniões com Lucena, mas não tiveram resposta.
Segundo apuração do g1, a resistência de Lucena em pedir afastamento vem porque, neste caso, assumiria sua vice-prefeita, Dilmara Amaral (PDT), com quem o prefeito é rompido politicamente.
Denúncia no Ministério Público
José Maria Lucena, conhecido em Limoeiro do Norte como Dr. Zé Maria, foi eleito prefeito em 2016 e reeleito em 2020.
Sua família tem forte envolvimento política: uma das filhas, Juliana Lucena, é deputada estadual pelo PT; outra filha, Andrea Lucena, é secretária de Governo de Limoeiro; a esposa de Zé Maria, Maria Erivan, é ex-prefeita da cidade e atual secretária de Assistência Social.
Nas eleições de 2020, já era de conhecimento público que o prefeito tinha problemas renais crônicos, conforme o morador com quem o g1 conversou. “Ele já tava bem debilitado, mas tipo, era um debilitado de aparecer nos eventos públicos, de dar com a mão, dar umas duas, três palavras, o discurso dele sempre muito curto”, relembra.
A partir do segundo semestre de 2022, conforme relatos, Lucena começou a se ausentar mais longamente. Em fevereiro de 2023, o MP-CE recebeu uma denúncia de um vereador de oposição de que o prefeito estava ausente do município há meses e sem permissão da Câmara. Em março, o órgão abriu um processo administrativo para investigar a situação.
Para averiguar o funcionamento da gestão, o promotor de Limoeiro do Norte, Felipe Carvalho de Aguiar, convocou membros da gestão para oitivas no dia 30 de março. Lucena participou apenas por videochamada.
Na descrição do momento, o MP-CE destacou que o prefeito estava sendo “quase a todo momento conduzido no depoimento pelo seu advogado”, e que em alguns momentos em que falou só, disse frases desconexas.
Na mesma sessão, quando perguntado do andamento das atividades da prefeitura, das obras e das secretarias, segundo o MP, o prefeito “nada relatou” e pediu que o órgão solicitasse estas informações à Secretaria de Governo da prefeitura, comandada pela filha de Lucena, Andrea Lucena.
Entre os pontos que o Ministério Público investiga estão a capacidade do prefeito para exercer as funções para as quais foi eleito e, na ausência dele, quem tem comandado a prefeitura. Isto porque no período em que, segundo a denúncia, o prefeito está internado em Fortaleza, os documentos continuam a ser assinados e enviados para a Câmara de Vereadores.
"É evidente que a gestão da municipalidade não se encontra em situação de normalidade, haja vista a caracterização de ausência do prefeito no trato com os diversos atores que rotineiramente se relacionam, despacham, postulam e necessitam de atendimento pelo Chefe do Poder Executivo. [...] Ao que se vislumbra, sempre há neste ano de 2023, interpostas pessoas para despachar ou dar andamento na gestão do Município ao invés do próprio prefeito exercendo suas funções", aponta o relatório do MP-CE assinado pelo procurador Felipe Carvalho de Aguiar.
*Fonte: g1