terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Poder de compra dos brasileiros reduz pela metade em 10 anos

O poder de compra do brasileiro foi corroído quase que pela metade entre 2013 e 2023. Isso porque o preço dos produtos nos mercados quase dobrou, enquanto o salário médio anual ficou praticamente estagnado em termos nominais.


Mas o que é a perda de poder de compra? É a sensação de que agora se compra menos itens no mercado do que antes com a mesma quantia de dinheiro. Ou que é preciso desembolsar mais para comprar a mesma quantidade de produtos.

Com R$ 100 a preços de 10 anos atrás, foi possível montar uma cesta de 13 produtos básicos para o carrinho do supermercado. Considerando as correções até o ano passado, os mesmos R$ 100 não compram metade das mercadorias selecionadas. 

E essa necessidade de gastar mais enxugou a carteira do brasileiro, já que o salário médio anual não acompanhou os reajustes de preços.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, subiu 88% em 10 anos;

O salário médio anual do brasileiro, considerando 13º e férias, por sua vez, aumentou cerca de 3% no período. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, o valor passou de R$ 38.484,44 para R$ 39.604,44.

O poder de compra do brasileiro caiu em todos os anos desde 2013, apontou um estudo realizado pela consultoria financeira L4 Capital. 

Em 2013, por exemplo, o brasileiro ganhava um salário médio anual sem descontar a inflação de R$ 38.484,44, e tinha disponível para gastar com serviços e produtos um total de R$ 3.028,05 por mês (o equivalente a R$ 36.336,65 por ano, considerando a inflação).

Essa quantia, inclui itens como mercado, aluguel, combustível, despesas pessoais etc. Com o tempo, porém, foi cada vez mais necessário cortar itens da lista de compras.

Assim, em 2023, apesar do salário nominal (sem os descontos da inflação) ser de R$ 39.604,44, a quantia disponível para gastar com produtos e serviços diminuiu 42%, para R$ 1.755 por mês (R$ 21.064,16 por ano). 

Por que isso acontece?
Segundo especialistas entrevistados pelo g1, a perda de poder de compra foi tão considerável por dois motivos: inflação relevante e baixa produtividade profissional.

O Brasil não teve um período deflacionário nos últimos 10 anos. Ou seja, ano após ano, os preços de itens compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) subiram. Apenas em alguns meses se viu alguma queda, mas em itens localizados e sem força suficiente para haver um recuo na média anual.

Para Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, é preciso dar um destaque especial a dois períodos, em que a inflação subiu acelerou ainda mais: a crise de 2015 e a pandemia de Covid-19. Nos dois períodos, os preços subiram por volta de 10% no ano, e não houve um aumento salarial equivalente.

"[Há cerca de oito anos], as escolhas econômicas da então presidente Dilma Rousseff (PT), como excesso de gastos públicos e estímulos a demanda privada, reduziram a potência da política monetária do país", afirmou a especialista.

À época, o governo tomou medidas como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis e o estímulo de uso de bancos públicos, como o BNDES, para subsidiar empréstimos às custas do Tesouro Nacional.

Ao mesmo tempo, o BC manteve uma política monetária expansionista, com redução da taxa Selic a despeito da inflação acima da meta, incentivando a demanda agregada e contribuindo para a alta de preços.

Na pandemia, por sua vez, a situação era outra. Houve um aumento forte da inflação tanto no Brasil quanto no mundo porque diversos países fecharam fronteiras dado o excesso de casos de Covid-19, causando um desajuste completo da oferta de produtos.

"Houve um desequilíbrio em toda a cadeia de produção e, consequentemente, nos preços [dos produtos]", diz Rachel, da Rico.

 

*Fonte: g1