segunda-feira, 3 de junho de 2024

Ceará registra mais de 400 casos e 56 mortes por leptospirose entre 2018 e 2023

Foto: Fco Fontenelle

Nos últimos seis anos, de janeiro de 2018 a dezembro de 2023, o Ceará registrou 449 casos confirmados de leptospirose. De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), o número representa uma média de 75 casos por ano. No mesmo período, houve um total de 56 óbitos por leptospirose. Geralmente transmitida por água contaminada pela urina do rato, o período chuvoso e a ocorrência de enchentes podem aumentar os riscos para a doença infecciosa.No Ceará, conforme dados do e-SUS, do Ministério da Saúde, 11 casos e um óbito foram confirmados até abril deste ano. O índice torna o Estado o terceiro maior do Nordeste em incidência da leptospirose, ficando atrás de Pernambuco (35 casos e 7 óbitos) e Bahia (25 casos e 1 óbito).


Somados aos 449 registros de 2018 a 2023, são 460 casos em 52 meses (janeiro/2018 a abril/2024). De acordo com o médico infectologista do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), Francisco José Cândido, a leptospirose é transmitida principalmente pelo contato com água ou alimentos contaminados.


“A doença é causada por uma bactéria do gênero Leptospira. Geralmente, essa bactéria está presente nos excrementos de roedores, como os ratos. Quando os ratos urinam em locais, como o solo e telhados, e esses locais são atingidos pela água da chuva, a urina contaminada se espalha", pontua."Por conseguinte, infectam pessoas que entram em contato com essa água contaminada. Isso é muito comum, principalmente no período chuvoso, quando ocorrem inundações”, explica o especialista.A penetração da bactéria no ser humano ocorre através da pele lesada, por meio das mucosas, região dos olhos, boca e nariz ou ferimentos expostos. “A leptospirose também pode ser transmitida através de alimentos contaminados por excrementos de roedores. Isso ocorre quando os alimentos não são devidamente higienizados antes do consumo”, pontua Francisco José Cândido.


De acordo com a Sesa, no período de 2018-2023, o maior número de infectados foram pessoas na faixa etária de 20 a 34 anos de idade (145 casos - 32,3%), do sexo masculino (356 - 79,3%), em pessoas pardas (372 - 82,9%).

Números de casos de leptospirose no Ceará:

2018 - 53 casos e 18 óbitos 

2019 - 111 casos e 17 óbitos

2020 - 46 casos e 7 óbitos

2021 - 45 casos e 4 óbitos

2022 - 103 casos e 9 óbitos

2023 - 91 casos e 6 óbitos

Além disso, a maior incidência da doença é na zona urbana (360 casos - 80,2%), cinco vezes mais que na zona rural (73 - 16,3%), entre outros territórios mapeados. Dentre as situações de risco, contato com água/lama enchente  (40,3%) e sinais de roedores (39,6%) foram as mais relatadas nas notificações.


Somente em Fortaleza, no período de 2021 a 2023, foram registrados 111 casos de leptospirose e 16 óbitos. Em 2023, foram 36 casos da doença e seis óbitos na Capital. Já até março de 2024, cinco casos e um óbito foram confirmados. Conforme explica o infectologista Francisco José Cândido, do Hospital São José, a leptospirose apresenta um espectro muito amplo de sintomas. A infecção é, inclusive, bastante confundida com outras doenças, como a dengue.“Algumas pessoas podem ter uma infecção leve e quase assintomática, que se resolvem sem necessidade de tratamento significativo. No entanto, outras pessoas podem desenvolver formas mais graves da doença. Esses casos graves requerem hospitalização e podem sim levar à morte”, alerta o especialista.


Sintomas da leptospirose

Fase leve: febre baixa, dores musculares, falta de apetite, dor de cabeça e náuseas/vômitos.


Forma grave: comprometimento renal, pulmonar, sangramentos e disfunção hepática.


Em caso de sintomas leves, a orientação é procurar um posto de saúde. Já na presença de sintomas mais graves,o indicado é se dirigir às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).O diagnóstico da leptospirose depende muito da história clínica e epidemiológica do paciente, como a exposição a enchentes, que aumentam o risco de contato humano com água contaminada. O intervalo de tempo entre a transmissão da infecção até o início dos sintomas ocorre, normalmente, entre 7 e 14 dias após a exposição a situações de risco.


Francisco Cândido explica que não há um grupo específico de risco maior. No entanto, pessoas com comorbidades podem ter maior sensibilidade a infecção. “A doença pode afetar pessoas de todas as idades, desde jovens até idosos. Mas pessoas com condições pré-existentes, como diabetes; pacientes em hemodiálise; imunossuprimidos ou com câncer, correm maior risco de desenvolver a fase grave”, pontua.


Como podemos prevenir a leptospirose?

Durante o período de chuvas, evite o contato com água de enchentes, que pode estar contaminada. Impeça que crianças nadem nessas águas.Em caso de residência inundada, recomenda-se retirar a lama, sempre com a proteção de luvas e botas de borracha. Lave o local com uma solução de hipoclorito de sódio a 2,5%: para 20 litros de água, adicione duas xícaras de chá (400 ml) de hipoclorito de sódio a 2,5%. Deixe agir por 15 minutos.

Em casa, controle a presença de roedores e mantenha os alimentos protegidos para não atrair esses animais. Higienize copos e latas de bebidas antes de ingeri-las. Em caso de infestação de roedores, acione as autoridades competentes para um controle adequado dos vetores. Tenha certeza que a água ingerida seja potável, filtrada, fervida ou clorada para consumo humano.


 *Fonte: O Povo