Gilson de Moura Leite, engenheiro, filho do Casal Francisco Leite de Moura e Onezina Leite Tavares, seus irmãos, Genival, Zé Leitinho, Wilson (in memoriam) e Maria Oneci. Casado com a Sra. Fátima, a qual conheceu na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, com ela teve os filhos Denise Damasceno de Moura, Gilson Leite de Moura Filho, Renato Mafra de Moura Leite, Sérgio Mafra de Moura Leite e Marina Damasceno de Moura Leite e seis netos aos quais tem um amor e carinho. Atualmente está como Secretário Executivo do Meio Ambiente pela Prefeitura Municipal de Brejo Santo.
Sinto-me honrada em conversar com uma pessoa tão ilustre e intelectual como Dr. Gilson de Moura Leite. Quem é Dr. Gilson? : “Um menino igual a todos os outros de Brejo Santo, só que na época pelo fato de ser neto do Manoel Leite de Moura, que era o Coronel aqui em Brejo Santo, figura importante o apontavam: olha o neto de Manoel Leite. Hoje, é o seguinte, ninguém sabe mais quem é Manoel Leite, mas a gente está aqui, continuamos por aqui, pra ver se pelo menos imita o avô da gente”.
Gilson de Moura Leite, Dr. Gilson relata que teve uma infância comum, não gostava de ser destacado como neto do Coronel Manoel Leite, pois este havia falecido em 1946, quando ele tinha apenas dois anos de idade e por não conhece-lo, não se lembra do mesmo. Conta Dr. Gilson que isso de ser neto de Manoel Leite distanciava um pouco de brincar com outras crianças da cidade, por que havia um conceito da família restrita. Porém com Dr. Gilson houve esta quebra de paradigmas, ele resolve adentrar nas matas de Brejo Santo com as crianças em busca de caçar passarinho, sua aventura favorita. Além de gostar de brincar, tinha o tempo para estudar. Estudou com a professora Rosa Roberto. Quando fala da professora, ele relata que de fato esta, tinha uma palmatória, mas que nunca fora brava com ele: “Talvez por que eu era neto do coronel Manoel Leite (risos)”. Pois bem, ainda sobre Rosa Roberto, era que a mesma assustava as crianças dizendo que havia uma cobra em quartinho de sua casa, talvez o fato de muitas crianças temerem Rosa, o medo era da cobra e não da professora. Outro fato concernente a Rosa Roberto é a história de que ela namorou Toinheiro (rapaz velho) por muitos anos e nunca casaram.
Dr. Gilson se mostra saudosista a todo este tempo, uma infância saudável, diferente de hoje. Naquela época as crianças andavam por todo lugar, sem preocupação, com liberdade, pois, para ele o Brasil era o Brejo, o qual tinha suas ruas principais, a Rua Velha e a Rua da Taboqueira. Estudou ainda, na escola de Dona Gracildes, prédio próximo a Igreja. Outra professora que Dr. Gilson cita é Dona Izaltina.
Depois do período estudantil em Brejo Santo, fora estudar em Missão Velha no colégio Marista, por sinal, muito bem conceituado, com professores de origem francesa. Dr. Gilson dominava um pouco a língua francesa e fora até convidado como professor substituto no colégio Padre Ibiapina. Ele relata que um dos companheiros de jornada em Missão Velha fora Dr. Haroldo e conservam a amizade até hoje. Depois de dois anos em Missão Velha seu destino seria a Capital pernambucana Recife. Ao se instalar em Recife, por ter um ensino melhor, continuou nos Maristas e aprendeu muitas coisas, inclusive retirar da cabeça algumas crendices impostas na época como: comer fruta quente faz mal, emborcar sandálias, enfim crendices sem fundamentação.
Dr. Gilson fala na integra sobre o valor da liberdade: “A maior libertação que o homem pode ter é exatamente desapagar dessas pequenas coisas da vida que agente vai se libertando. Você se escraviza destas tolices e a Ciência está aqui para retirar essa escravidão da cabeça da gente, ler e estudar não nos torna escravos”. Verdade, estas palavras de entendimento do sentido da vida e da ciência. Em Recife Dr. Gilson estudou 4 anos nos Maristas nos Salesianos, achava que tinha vocação, porém descobriu que não. Depois dos Maristas, resolve estudar em escola pública de Recife. Mas não seria fácil, pois encontraria pela frente o obstáculo do Padre Dirigente do colégio o qual queria que ele permanecesse. Mas a sabedoria e a inteligência falaram mais alto e ele retruca: “Padre, tenho conhecimento de quem foi Dom Bosco e para quem Dom Bosco fundou esta instituição, foi para pessoas pobres, estou sabendo da história, inclusive que o senhor me deixasse sair, até em homenagem a Dom Bosco”. Dr. Gilson revela que fora uma das suas primeiras conquistas realizada sozinho na capital. Na escola pública fora recebido por Dona Laudelina, junto com Vicente de Eliseu, este também era seu colega. Dr. Gilson estuda ainda na escola Martim Junior, no qual o diretor tinha idéias comunistas e ele era simpatizante. Podemos intitular Dr. Gilson como um dos primeiros engenheiros de Brejo Santo, junto com Vicente de Elizeu. Apesar das dificuldades, prestou vestibular para engenharia na escola Politécnica e na Universidade Federal de Pernambuco (onde se formou).
Impressionou-me a militância de Dr. Gilson nos movimentos estudantis. Ele diz que Recife era a cidade mais politizada do país, principalmente na parte da engenharia que comandava a escola. Participava de tudo sem o pai saber. Na década de 60 ele relata que no período revolucionário, participava de comícios, passeatas estudantis pelas ruas de Recife. Relata que um jovem foi morto na cidade de Rio de Janeiro por perseguições de policiais em um calabouço e os estudantes fizeram uma revolução grande. Em Recife foi celebrada uma missa por Dom Helder Câmara em homenagem ao estudante e os policiais invadiram a Igreja com a cavalaria. No local havia um colega já preparado e soltou umas bolinhas de gude no piso da Igreja e os cavalos saíram deslizando. Outro colega sugeriu que cantassem o hino Nacional, pois os policias não iria pagá-los. Saíram todos pelas ruas de Recife antigo e aos poucos os estudantes foram se dispersando, inclusive ele que fora perseguido por um policial e escapou depois que entrou em um ônibus e tomou um rumo diferente.
Por muitos anos Dr. Gilson morou na Casa dos Estudantes de Recife, na qual fora coordenador. Um dos fatos interessantes é que como eles não tinham condições, muitas vezes a luz e água eram cortadas. Mas era trabalho perdido, pois era uma casa composta por engenheiros elétricos e hidráulicos e não dava outra, desligavam e eles ligavam. Outros estudantes já engenheiros ajudavam no que podia. Ao se formar, depois da diplomação veio o questionamento: “Ontem fui estudante, hoje engenheiro e agora”?! Mas graças a Deus, como era estagiário na prefeitura da cidade de Olinda, na época, fora convidado pelo então Prefeito Ubiratan de Castro e assumiu o subsecretariado da Secretaria de infraestrutura da referida cidade. Foi ai que desenvolveu e aprendeu sobre administração pública.
Depois do período de Recife, retorna a Brejo Santo e juntou-se na década de 1990 a Dr. Welington Landim lutando em beneficio da cidade. Os trabalhos começam com comícios, subir em palanques. Um fato histórico, segundo Dr. Gilson: “é que quando estavam no Distrito da Serra e que falavam das propostas de governo, um bêbado falou: “vocês estão falando bonito, quero ver é depois” e voltava a roncar em pé. Isto acontecia quando alguém discursava, até que Cezinha se encabulou e pediu para que eu falasse. Quando falei dando continuidade ao que Cezinha estava falando disse que o bêbado tinha razão, ela não estava dizendo mentira não. De fato, o povo estava cansado de promessas e que o novo governo da cidade iria realizar, pois se Dr. Welington não fizesse cobraria do mesmo”.
De fato, segundo Dr. Guilson, as coisas começaram a mudar, Dr. Welington ganhou as eleições para prefeito, e Dr. Gilson era Secretário de Infra Estrutura e as cobranças vieram. Mas Dr. Weligthosn era atento e sempre ligava para saber como estavam as coisas, inclusive ligava de madrugada. Em uma de suas ligações foi para falar da vitória da água do Barreiro Preto. Diz Dr. Gilson: “Dediquei-me a esta causa”, sempre levavam em seu carro as conexões, pois era um projeto bem elaborado pela FUNASA. De fato a água foi implantada depois de muita luta, e já era noite quando os envolvidos festejaram jogando um balde de água sobre Dr. Gilson em comemoração a conquista. Depois desta conquista, a pedido de Dr. Welington, planejou o saneamento básico de Brejo Santo. Paralelo, ao trabalho do município, Dr. Gilson, possuía um fábrica de Pré-moldados, cujo nome era IMPRECOL.
Podemos citar os projetos elaborados e realizados por Dr. Gilson:
- 1º Loteamento de Brejo Santo denominado de Moura (homenagem ao seu pai)- onde hoje fica o supermercado Super São Jorge e adjacências.
-Loteamento Paisagem do Araripe – Hélio Leite era o topógrafo e juntos desenvolveram o projeto, onde se localiza a Praça Chico Leite. Por que Paisagem do Araripe? Por que há uma visualização da praça a Chapada.
- Os jarros ornamentais da cidade, são de sua criação.
- Trabalhou arduamente pela urbanização de Brejo Santo, como ele mesmo diz: “Minha Brejo Santo”.
- Ajudou Irmã Maria do Rosário (in memoriam), Irmã Sacramentinas, na construção de casas paupérrimas no Bairro Alto da Bela Vista, antigo Serrote, (verba vinda da França casa Mãe da Congregação), como também no saneamento básico da localidade, visto que muitas crianças estavam desnutridas em razão dos problemas de saúde.
- Iniciou a construção do Salão Catequético, mas por motivos superiores, não deu continuidade, passando para o companheiro Dr. Bosco Nobilino.
- Implantou uma tecnologia própria com pesquisas no quintal de sua casa, através de estudos e leituras, como exemplo a fibra de vidro e as lajotas de muros de muitas casas da cidade foram sua criação também.
Dr. Gilson encerra o momento, com uma frase digna que só compete dos sábios e entendidos da história e da filosofia: “A história não está concluída”. De fato, muito ainda tinha o que se dizer e a fazer.
OBRIGADA DR. GILSON PELA DISPONIBILIDADE E GENTILIZA EM ME RECEBER.
Brejo Santo, Ceará, 11 de maio de 2018